quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Ao lado

Ser parte de sua vida, mesmo
que os outros não saibam,
não me impede de estar.

Poder de observar ao longe
e ter sempre perto,
é parte do nosso segredo.

Não precisão saber,
pois seus crivos são ínfimos
em relação ao que vivemos.

Não vão ser espaços limitados
que irão limitar minha relação.

Perto estou.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Agora também o cisne morre

O acordar começa com um: estou aqui e agora? O Acordar realmente me doe, aos poucos vou tomando conta de que realmente estou aqui. Nunca fui muito feliz ao acordar, não sou daqueles que pulam da cama, e dizem bom dia para o novo renascer do sol. Diferente dele, pois todos os dias acordava já com uma felicidade, às vezes chegando a me dar vontade de lhe meter uma bofetada na cara, pois só os tolos não percebem o verdadeiro sentido do acordar. Esse ato tão cotidiano devia nos lembrar quase que obrigatoriamente de que o hoje é um dia depois do ontem, um ano depois do ano passado e que mais cedo ou mais tarde ela vem nos visitar. Normalmente levo muito tempo para me tornar eu, tempo para me adaptar ao que esperam que eu seja. Sei muito bem como devo me portar, logo que me levanto, vou ao banheiro e diariamente passo na minha face três lâminas bastante afiadas, depois uso de uns fios presos para limpar meus dentes, me banho, uso o sanitário durante umas duas ou três paginas e vou levemente montando esse papel que devo desempenhar. Ele quando acordava, não precisa mais do que de cinco minutos, já estava pronto, não sei como ele tinha tanta certeza de se, mesmo com a pouca idade. O odeio sair de casa, principalmente depois que ela passou e o levou. Só saio de casa por basicamente três motivos, o primeiro deles são as compras, até porque ainda me alimento como todos os outros, o segundo o trabalho, esse só é motivo por haver necessidade das comprar, o último, é apenas uma hipótese, pois ainda não foi necessário. Certa vez, ele me disse que éramos invisíveis, e que toda minoria era invisível. Naquele momento concordei, e até hoje concordo em partes, mas quando me pego pensando o que é maiorias, me vejo em um conjunto de minorias articuladas, que tentam encontrar um ponto de congruência, mesmo que hipotética e utópica, e dessa forma se sentirem mais confortáveis enquanto humanos. Mas o pensar não me faz ter mais estímulos para querer me levantar. Ele era livre de pensar, parecia que a boca era grudada no cérebro, pois nada que passava por ela tinha um mínimo de logicismos anterior, e talvez por isso acordasse de bom humor. Atualmente estou ficando cada vez menos disposto a montar o papel, por isso costumo desmarcar eventos agendados há meses, com desculpas cada vez mais mentirosas, chegando ao ponto de em algumas ocasiões falar a mesmas coisas duas vezes. Não é só o acordar que estar me incomodando, o dormir também começa a me deixar chateado, pois começo a desconfiar de sua aliança de sangue com o acordar e dessa forma começo a ter amizade apenas com as tardes. Espero que essas não me decepcionem. Enquanto ela não chega para me conduzir a ele, vou acordando e toda vez começo o dia me perguntado: estou aqui e agora?

domingo, 31 de outubro de 2010

Antes que Morfeu

Olhava atentamente as nuvens, como se elas fossem as mensageiras de suas vontades. Era engraçado como elas passavam lentamente sobre sua cabeça, podia quase ter a fiel certeza que o tempo havia parado. Esperava, como nunca, que os dias passagem, porém eles teimavam em ficar estáticos. A sexta preguiçosamente cedeu ao sábado, esse que por sua vez curtiu cada segundo, até dar a possibilidade do domingo chegar. Os dias que haviam sido amigos outrora, agora eram seus piores inimigos.

As nuvens que passavam por sobre sua cabeça, tinham as formas que o cérebro queria, sabia disso, porém podia jurar que as nuvens se aliaram ao dias para provocá-lo, pois elas insistiam em mostrar aquele sorriso, emoldurado pelos lábios largos e vermelho que já quase uma semana só ouvia a voz, mas a beleza real ficava restrita a vontade das nuvens. As nuvens se dissolviam e se remontavam sempre formando a mesma imagem, e quando raramente mudavam, era para mostrar outras partes que também lhe remetiam a mesma pessoa.

O cigarro, fiel companheiro,depois de vários meses engavetado, voltava a passear entre seus dedos . Sabia pouco de química, mas o pouco que sabia, era o necessário para ter a certeza que as substancias tóxicas do cigarro podiam lhe proporcionar um relaxamento, e valia ariscar um pouco de sua saúde.

O calor da tarde, como de costume era incomodo, porém a simples vontade de olhar as nuvens, e a brisa que a praia lhe trazia, o deixou completamente despercebido. O céu azul começara lentamente a ficar laranja, a tarde estava chegando ao fim, o que por um lado lhe confortava, pois era sinal de que a segunda estava chegando, por outro lado, as nuvens a noire se confundem com o céu azul escuro, e dessa forma lhe roubam as imagens. Antes que Morfeu se tornasse aliado dos dias, deixou o cigarro de lado, pegou a câmera na bolsa, e como um leve clique, conseguiu ter o sorriso por mais algumas horas, até que pudesse ter o de verdade.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

La musique, voitures, musique

Já havia se decidido, o tempo de repensar já havia passado e a única coisa que mudaria o destino seria uma escolha divina, uma intervenção direta e não essas crendices bobas, que as pessoas costumeiramente fazem. Entrou, acertou o banco, os espelhos e até a própria cara. Sentado, sentia como se tivesse todo o poder do mundo, o poder que outrora não sentia. Olhou cuidadosamente cada detalhe, passou e repassou o plano na cabeça, pois assim firmaria as idéias no inconsciente e mesmo que o consciente fizesse a burrice de desobedecer já estava tudo gravado. Ligou o carro, pisou na embreagem, pisou no acelerador, foi trocando o peso entre os pés e pronto já estava a caminho. A musica, não sabia falar Frances a não ser uma duas ou três palavras, que aprendera com uma musica. “Quelqu'un Ma Dit”, não sabia pronunciar direito, porém o significado era algo como “Alguém me disse”, talvez essa música fosse interessante de ouvir. O acelerado estava a mais de cem por hora, quando o carro chega a tal velocidade é notório como o motorista deixa de ser um guia e passa a ser um homem que transita a linha tênue da vida e da morte, como uma criança que brinca no parque com a presa de curtir o máximo possível do dia. Quanto mais o pé entreva no acelerador, mais a vontade de voar de desintegrar no ar, como um olho de leão se desfaz com o vento. O vento, nunca tinha sido tão amigos, e cúmplice de pensamentos, talvez o vento se tornasse o ladrão de suas idéias, pois com o rosto ali parado, a cabeça se tornava cada vez mais vazia, assim como um saco de ar. “On me dit que nos vies ne valent pas grand-chose”, mas uma frase da música, porém essa não tinha decorado, apenas havia anotado no caderno, mesmo sem saber ao certo o significado, talvez fosse a sonoridade que havia marcado. Algo estranho estava acontecendo, ao invés do carro aumentar sua velocidade o que é o mais comum de ocorrer quando se pisa o mais fundo no acelerado, ele estava parando. Oitenta, cinqüenta, trinta, dez, cada ver menos, parou. Não acreditava em mudanças divinas, porém foi ali onde desabou em lagrimas, chorou o que havia ficado engasgado há um ano, dois, a vida toda. Chorar com choro de alma, tão fundo que não há forma de controlar. Ali parado só o que fazia era chorar, a mão trêmula, pegou o telefone, ligou para a seguradora, com a voz não muito forte, falou o endereço. Ali sem força para se mover resolveu ficar até, até, não sabia, porém iria se aceitar sentir.

sábado, 28 de agosto de 2010

Duas vezes: para ensaio, para valer.

Hoje eu vim aqui só para falar disso, não é comum no dia do aniversário alguém falar sobre a morte, porém normalmente o comum não me aprecia. Hoje ainda não é amanha, por isso ainda posso falar com menos experiência que amanha terei. Depois de ver na loja ao lado um caixão pude notar como nada melhor do que o aniversário para falar da morte. Não sei por que, mas sempre gostei das pessoas que conseguem nascer e morrer no mesmo dia, me parece uma fechada de ciclo completo e sem erro, onde essa pessoa respeita naturalmente o ciclo. A figura de um caixão foi me apresentada hoje, não que eu não a conhecesse, mas por que, parar para notá-la, nunca fiz. Algumas bobagens merecem ser faladas. A vida, ela vale menos que um caixão! A minha ao menos não sei afirmar, porém a vida de um modo geral deve valer. Aquele caixão me incomodou tanto, me fez refletir mais que as leituras de outrora, em Nietzsche, Jean-Paul Sartre. A figura o símbolo, a imagem foi o que me marcou. Saber que estarei lá dentro em mais ou menos dias, não me deixa feliz nem triste, mas em uma curiosidade meio que macabra e louca, porém afirmo, não tenho pressa em descobrir. Tenho uma metáfora estranha, porém engraçada para definir o que pensei. A vela após ter sido acendida, não importa o dispêndio de energia, em mais dia ou menos dia ela irar apagar. Odeio quando as coisas rimam, mas foi involuntário. O caixão, a loja, a vida, tudo isso me impressiona, sem falar no bar. Sei que do bar ainda não falei porem deixarei para outrora, hoje só quero falar da vida, do caixão e da loja, e acho que ainda é muito para poucas palavras que pretendo usar. Merda! Novamente rimou. Não sei se serei compreendido, e nem tenho essa necessita no momento, já tive em outras horas e com certeza terei no futuro, mas nesse momento eu só quero é falar, e me desculpe você que esta ouvindo, se não tiver entendendo, não se preocupe o problema esta mesmo em mim, e não em você. Não sei se consegui deixar claro o suficiente o porquê de o caixão ter me feito penar, mas se não consegui, na próxima vez que passarem na frente de uma loja de caixões, pare apenas um momento e fiquei olhando mesmo que o incomodo seja maior, apenas pare e fique olhando, talvez assim, não através de palavras e sim de ações eu consiga mostrar como o caixão me fez pensar. Fora que novamente rimou, só quero deixar mais uma dica, quando escolher parar em uma loja de caixões, para olhar, não vá em qualquer dia, espere a véspera do aniversário, talvez seja melhor, mas se o aniversário ainda estiver muito longe não perca tempo vá mesmo assim. Acho que a frase que li hoje, será um bom final. “A vida devia ser vivida duas vezes, uma para ensaio e outra para valer. Era algo assim, ou talvez não.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

A viagem

(Começa a cena com um barulho de barco saindo do porto, mulher sentada em uma pedra acenando com o lenço, e o marido olhando na mesma direção, porém sem se despedir e sem demonstrar nenhum sentimento)

Marie: Harry, isso é mesmo necessário?

Harry: Mesmo que não fosse, não temos mais nada a fazer, o barco já esta saindo! E ele já está embarcado.

Marie: Querido, é o nosso filho que esta lá dentro. Tenho tanto medo do que possa acontecer com ele.

Harry: Não temos outra opção. O governo inglês esta obrigando todas as pessoas que possuem filhos, com o mesmo problema que o nosso, a embarcá-los o mais rápido possível nesse barco.

Marie: Mas Harry, só o nome já me dá calafrios. Nau dos Loucos. O nosso filho não é louco. Harry, isso eu tenho certeza, pois fui eu que dei a luz. Harry, fui eu que amamentei, fui eu que cuidei dele durante todo esse tempo, era eu que estava sempre lá, e não esse povo que faz as leis. (tom raivoso) Ele é apenas diferente dos outros meninos da mesma idade.

Harry: Marie, não há mais o que fazer; o barco já vai partir e não adianta ficar reclamando isso para mim. Ordem do governo é ordem do governo e isso não se discute, é melhor assim. (tom conclusivo).

Marie: Você não me entende mesmo? Olha só para essas pessoas que estão sendo empurradas! Empurradas, pois esses ditos “médicos” não têm nem um cuidado com eles. E isso é porque estamos olhando, imagina só quando estiverem só eles lá dentro. Como será que vão cuidar do nosso filho? Com certeza não vai ser com a mesma atenção que uma mãe tem para com seu filho. E fora que o nosso filho não se parece com nenhum deles que estão ai. (olha fixamente para um ponto, e começa a demonstrar nervosismo) Olha, Harry, aquele senhor ali não é o ladrão que estava sendo procurado pela policia na semana passada? Tenho certeza, é ele sim! É ele! Olha.

Harry: Acho que não deve ser querida (tom de conforto, porém com dúvida). Você já está muito cansada, é melhor irmos indo embora. (Marie balança a cabeça de forma negativa) Acalme-se, o governo falou que essa viagem é apenas por um breve período, e que logo logo ele volta. Vai apenas passar por um tratamento mais forte, quem sabe não seja melhor para todos nos, pois assim ele vai ficar normal como todas as outras pessoas.

Marie: Não, Harry, não é assim como você pensa e fala. Ele não está viajando a passeio, ele está sendo obrigado a ir, e o governo não nos dá nenhuma garantia de sua volta. Ele é o meu filho, meu filho, meu filho... (vai aumentando o tom até estar gritando desesperadamente).

Harry: Você quer dizer nosso filho, não é? Você acha mesmo que estou feliz? Não é tão fácil como eu demonstro. Mas ele estando junto de nos também não eramos muito felizes, nunca podíamos sair juntos, sem perder o olhar crítico da sociedade

Marie: (interrompendo o marido) Esse eu tenho certeza, é um dos ladrões que estavam sendo procurados pela polícia! (nervosa) Isso não esta certo, vão colocar nosso filho junto com esse ladrão? Não era para ser um tratamento? Como isso vai ocorrer? Não, Harry, isso não ta certo!

Harry: Para de falar besteira, deve ser alguém parecido, com certeza o governo não iria fazer isso... Misturar ladrões com pessoas que possuem esse pequeno problema.

Marie: Se você não se importa com o nosso filho, tudo bem, mas eu já estou cansada!

Harry: (tom grosseiro) Não vou mais perder tempo com você, vamos, pois o que está feito esta feito, agora é só deixar de pensar besteira e ir esperando os dias passarem com paciência. Além do mais você ainda tem outros dois filhos para cuidar, e é melhor cuidar para eles não ficarem loucos que nem esse (depois de falar louco faz uma expressão de quem falou uma palavra que não se deve pronunciar).

Marie: Louco? Você chamou nosso filho de louco? Francamente, Harry, o que vão pensar de nossa família se alguém ouvir você falar isso? E logo você que me obrigou a mentir para todo mundo sobre o destino da viagem do nosso filho.

Harry: (notoriamente nervoso pelo comentário da mulher, fala com um tom de finalização) Vamos, não há mais nada a fazer aqui, quanto mais tempo ficarmos pior para a nossa imagem. Agora é só rezar para que ele volte melhor do que foi e o mais rápido possível.

(Harry olha na direção do barco com um olhar de despedida, sai da cena e da coxia, chama a esposa. Marie sai com o olhar baixo, pois não consegue disfarçar a tristeza)

Sol Poente.

(Uma mulher sentada mexendo em um som, enquanto o homem estar olhando para ela deitado na cama.)

Izabel: Olha nego é nossa musica vamos dançar? Eita que eu me sinto toda acariciada, por você, só de ouvir essa musica! Vamos nego vem dançar!
(Zeca se levanta da cama e vai dançar junto da mulher, musica a ser escolhida pelo grupo, porem deixo como diga a musica, “Despedida” de Maria Rita)
Zeca: Bel, tenho uma coisa para te dizer. Mas não sei como começar. (fala enquanto dançam)
Izabel: Fala homem, tu sabe que entre nos não tem essa besteira. Fala logo.
Zeca: Bel, tu sabe por que eu vim para cá né? Vim a trabalho, transferido, e a vida de quem trabalha na marinha é assim, o governo é que escolhe nossa casa, nossa cultura, nossa família.
Izabel: (vai até o som e para a musica) Nego, não to gostando do caminho que essa conversa ta seguindo fala logo, ou cala de vez.
Zeca: Eu também não sou de arrodeios, mas é que tu sabe como gosto de você...
Izabel: Fala logo, você mesmo falou que não é de arrodeios.
Zeca: É que bel... Izabel.
Izabel: (cortando a fala em um tom de raiva) Izabel? E tu me chama assim dez de quando? A única vez que você me chamou assim foi quando nos conhecemos e eu te falei que Izabel era para os desconhecidos e Bel era para os íntimos (leve sorriso) e como tu é safado foi logo me chamando de Bel e com o passar do tempo ficou B. Fala logo que eu já sei que coisa boa não é!
Zeca: Bel, verdadeiramente não é coisa boa, o que tenho para lhe dizer é que eu fui transferido para outra cidade.
Izabel: Mas home deixa de ser bobo nos ainda podemos nos ver. É onde? 200 km?
Zeca: Não Bel é no sul do país, e não temos como nos ver. É muito longe, eu não tenho como ficar vindo, você não vai ter como ficar indo. Entre outros problemas...
Izabel: Mas Zeca, eu vou com você, não a nada aqui que me prenda mesmo, nem família nem amigos, só tu mesmo, para mim essa terra é só tu (risada nervosa)
Zeca: Izabel não... Não quero desandar tua vida! Mulher vida de marinheiro é sem rumo, sempre se mudando. Eu mesmo achei que ia passar no mínimo dois anos aqui, e com menos de seis meses já fui transferido. Você tem é que ficar aqui. Sua terra. E não ficar mulher do mar.
Izabel: Desandar minha vida? Não homem isso não é problema ela já é toda desandada desde sempre mesmo. Eu sempre tive uma vida desandada! Estando com você é que eu sinto que ela pode andar um pouquinho, e mesmo se ela não andar eu não me importo muito. Por mim ela pode até nadar (risada nervosa).
Zeca: Não Izabel, você tem que entender, eu tenho de ir e você de ficar.
Izabel: É verdade, mulher de marinheiro é pior que puta, ou menos as putas recebem dinheiro pelos homens que passam por elas, e nos mulher de marinheiro, não essas só fica com a fama na cidade. E homem já gente vai a gente fica.
Zeca: Você sabe que se eu pudesse eu ficava aqui, mas são ordens superiores, e ordens superiores não podem ser desobedecidas.
Izabel: Homem, então se você vai sair da minha vida saia logo agora. Borá fora... Esse barraco é pequeno, mas é meu... Fora... Fora ta ouvindo não. A partir de agora só me fode se pude pagar.
Zeca: Calma, também não precisa ser assim... Ainda nos gostamos...
Izabel: Exatamente por isso tem de ser assim, vamos homem sai... Já que tem que ir vai logo.
(Izabel esperando ele sair segurando firmemente a expressão de mulher decidida, depois que ele sai ela coloca novamente a musica e começa a rir risadas)

quinta-feira, 24 de junho de 2010

A dama

Mas uma vez lá estávamos, no motel barato do centro da cidade, seu nome, nem lembro, até porque motel barato no centro da cidade é tudo igual, apenas mais um lugar onde se paga menos que uma marmita, para fazer um sexo de fast-food. Já havia prometido para mim mesma que nunca mais aceitaria ir para um motel do centro, principalmente com aquela pessoa, que pretendia nunca mais ver. Não tive como negar, pois ele me ligou a noite inteira e toda vez que eu atendia sua voz estava cada vez mais alterada, devido à quantidade de doses de cachaça tomadas. Sabia que ele não iria parar de ligar até eu atender ao telefone, por isso, resolvi atender logo.
- Alô. Oi, Caio, é você de novo? Já não te falei que não me ligasse mais, principalmente quando está bebendo.
-Desculpa minha linda, mas é porque a nossa música está tocando a mais de uma hora e, por isso, quis te ver. Claro que sou eu que estou colocando ela para repetir. Você quer ouvir? A dama de lilás me machucando o coração. A febre de sentir seu corpo todo coladinho com o meu. Então eu cantaria a noite inteira, como eu já cantei...
-Não adianta apelar... Ô, meu loiro, você sabe que assim eu não resisto... Certo, vem me pegar.
Com menos de dez minutos, lá estávamos no motel, talvez o de costume, ou apenas mais um. Entramos. Nunca entendi o porquê, mas ele sempre queria o quarto meia nove. A luz vermelha, a cama redonda, um frigobar, dois pacotes de preservativo em cima do frigobar, um ar-condicionado que devia estar sem manutenção a pelo menos quatro meses, visto que, estava com o filtro preto e pingando água na parede. Deitamos na cama, como sempre, falamos pouco, pois o fogo do beijo era maior. Beijo na nuca, local preferido dele, beijo nas costas, local preferido meu, mãos, bocas, pernas, braços, para um lado, para o outro, tira roupa e duas horas. Não me sentia nem suja, nem limpa depois que saímos daquele local, apenas me sentia. Ele já estava com um bafo menos fedorento a cachaça e com a roupa toda molha de suor, o que não podia negar que havia tido uma relação sexual. Entramos novamente no carro, ele colocou a nossa música. Ainda me lembro o dia que iludida, fui à loja, passei mais de duas horas escolhendo qual seria o melhor cd, comprei com o dinheiro que havia conseguido ganhar em dois dias de trabalho, e lhe dei no dia dos namorados. Senti-me uma completa retardada, quando ele nem ao menos abriu o presente, sem antes abri meu sutiã e meter as mãos nas minhas pernas. Logo depois de rolarmos na cama, abriu o cd colocou a facha dois, acho que aleatoriamente, olhou nos meus olhos e disse: EI menina, essa vai ser nossa música, toda vez que ela tocar vou lhe ligar. O pior é que o canalha sempre fazia isso, ou, ao menos, usa como justificativa para me ligar. Já estávamos chegando ao ponto onde ele me pegou, paramos, ele pegou a carteira, e foi logo perguntando.
- E ai amor! Quanto é o valor dessa vez?
O pior é que o safado falava com um tom como se não soubesse.
- São os mesmos 80 reais, porém, dessa vez, vou fazer de graça, pois quero que saiba que foi a última.
Fui ate o toca CDs, tirei o cd, esfreguei com toda força no chão do asfalto e depois quebre, pois eu podia até resistir à vontade de telo junto a mim, mas nunca a uma música de Maria Bethânia.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Normalidades

Haviam resolvido internar Pedro, não que achassem que ele havia ficado louco, até porque achavam essa palavra muito forte, ou seja, haviam pensado em colocar Pedro em uma clínica de tratamento psicológico, pois o mesmo precisava de um tempo, fora da sociedade, para poder pensar nos atos que havia realizado nos últimos dois meses. Pedro não teve nem chance de falar que estava bem, até porque não conversava com ninguém umas duas semanas. Seu olhar também havia mudado, era como se comunicasse através dos mesmos, pois as palavras já não tinham a capacidade de dimensionar os pensamentos. Não era comum um homem de 26 anos, formado em dois cursos superiores na melhor faculdade do estado, além de um mestrado e um doutorado em universidades do exterior, estar no estado físico e psicológico que Pedro se encontrava. O medico perguntou se nenhum dos familiares sabia responder quando Pedro havia mudado, ou como aconteceu. Era estranho, mas ninguém sabia dizer, pois foi como se uma noite ele tivesse dormido bem e acordasse louco, ou melhor, com problemas psicológicos, pois a família não gostava da palavra louco, era muito forte e não achavam necessário para o caso de Pedro. O medico ainda tentou manter uma conversa, porém Pedro não respondia a nenhuma pergunta. “Qual seu nome?...” “Sua idade?...” “Sabe dizer em qual ano estamos?...” “Qual o nome do seu cachorro?...”. “Não adianta doutor, já tentamos conversar antes, porém ele vem em um silencio sufocado a mais de duas semanas” essa frase foi falada como que em couro por todos os familiares. O diagnóstico havia sido dado, depressão profunda, características básicas, falta de animo, chegando a não realizar as atividades cotidianas, faltas de apetite, além de um silencio profundo. Solução, internação imediata, pois o quadro podia piorar, e o paciente poderia cometer suicídio. Fichas preenchidas. Pronto, os enfermeiros podiam levar o novo paciente para o quarto vinte e dois, onde iria começar a tomar seus medicamentos, que inicialmente seriam ministrados através de injeções intravenosas, depois, caso o quadro do paciente melhorasse, poderia tomá-los via oral. Quarto vinte e dois, completamente branco, cama, porta e paredes revertidas com espumas, para caso o paciente quisesse se machucar, batendo-se nas paredes. Cama também revertida por espumas, com a mesma justificativa, luz e janelas protegidas com grades, tudo com a maior segurança e conforto, para a recuperação do paciente. Todos os dias o paciente tinha direito a sair para o jardim do hospital, ou melhor, da clínica de rehabilitação social, porém sempre bem dopado e com um enfermeiro acompanhando. Toda semana os familiares podiam visitá-lo, duas vezes, o que aconteceu nos primeiros quinze dias, logo depois começaram a ir uma vez por mês, logo depois, só nas datas comemorativas, e atualmente fazia dois meses que ninguém o visitava. O homem do quarto vinte e dois havia acordado meio que indisposto naquele dia, não quis sair para o jardim, também não comeu todo o almoço, porém algo de mais incomum havia acontecido. O homem havia desenhado em uma folha em branco algo que ninguém conseguia ler, talvez por ser em outra língua, que os enfermeiros não conheciam ou quem sabe por não haver nenhum sentido lógico naquela junção de letras. Após muita insistência dos psiquiatras do hospital, o homem do quarto vinte e dois resolveu falar, coisa que não fazia desde que havia chegado ao hospital. “Homem em sociedade pode ter um parâmetro para se considerar normal, o preso não, pois para ele normalidade é ser o que se é”, teve de repetir duas vezes, pois como fazia um tempo que não falava as cordas vocais parecia não saberem mais vibrar. Após ouvirem os médicos não conseguiram ver sentido em seu discurso, por esse motivo mandaram aumentar a dosagem dos medicamentos, ante-alucinógenos, pois o ser do quarto vinte e dois não sabia mesmo o que estava sendo real ou imaginação.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Até Amanha.

Nós? Bem, acho que ficamos 21 dias seis horas e 23 minutos, os segundos não sei muito bem, principalmente porque me confundo se devo contar a partir do momento que você me deixou na porta, ou do momento que nossos lábios se separaram, mas pensando bem isso também vai confundir os minutos, pois dependendo do momento que escolher para considerar o fim, pode nos dar mais uns dois minutos ou nos tirar uns três. Ok não, não isso não é o motivo que me fez vir até aqui para falar com você. Sei que faz muito tempo que não nos falamos nem por telefone. Sim, também sei que devia ter lhe ligado antes, ao invés de apenas vir ate seu apartamento, bater na porta e tentar ficar com a cara mais lavada do mundo sorrindo com se isso fosse a coisa mais normal do mundo de se fazer. Desculpa, mas eu posso entrar? Não eu posso até ficar falando da porta mais você ta me fazendo tantas perguntas que eu prefiro entrar, claro que não precisamos ir até seu quarto como era de costume, e sentarmos na cama, por falar na cama você ainda estar com aquela mesma coxa, é porque toda vez que eu vinha, lá estava à coxa azul, com o lençol branco todo amassado em cima da cama e os dois travesseiros cada um em uma ponta diferente e fora a sua mesa de desenho que sempre estava toda bagunçada, cheia de revistas, livros, papeis... Ta vou parar de rir... Sim to parando... Pronto. Claro que não vim aqui só para falar de como você é bagunçado, até porque isso eu já lhe falava antes. Sim posso ou não entrar? Aqui na sala já ta bom. Bem, eu to bem... E você? Novidades? E na faculdade? Vai mesmo da certo esse ano? É verdade você já havia falado que talvez fosse ser nesse semestre, mas como você não havia dado certeza pensei que talvez tivesse mudado de ideia, ou quem sabe resolvido fazer mesmo... Ok. Se estiver tomando seu tempo de mais é melhor eu ir. Sei que você não falou isso, mas a forma como você fica toda hora me perguntando qual é o motivo que me fez sair de casa e vim depois de uns dois meses sem pisar aqui... É óbvio que isso não foi uma atitude pensada, pois qual é o ser humano que faria uma loucura dessas se tivesse parado ao menos dois minutos para pensar, foi de momento mesmo eu estava passando por perto fechei os olhos contei ate três e vim. Não eu não vim só porque estava perto, isso foi apenas a gota d’água, foi apenas o que faltava para eu poder ter coragem e vim te ver, mas para falar a verdade já to me arrependendo, melhor eu ir. Se eu vou, mesmo sem lhe dizer o que vim lhe dizer? Acho que sim, pois me fale você já ouviu falar de alguma historia que, após alguém fazer um ato louco como esse meu, os dois voltaram e viveram felizes para sempre? Não vale me falar de algum filme. Acho que a única coisa que vai servir, caso eu realmente fale, é que vai fazer muito bem para seu ego e muito mal para o meu. Porra deixa de se fazer de doido, ta na cara não, ou você quer ouvir mesmo, pois essa é a única forma de ter certeza que sou um idiota. É pela primeira vez que queria nunca ter lhe conhecido, ou melhor, ter lhe conhecido só hoje, pois eu sinto como se tivesse lhe conhecido na hora errada e por isso gastei a única bala que havia me dado e hoje em dia só me sobra à pólvora já usada. Merda por que eu ainda penso que podíamos ter dado certo e hoje estaríamos com, mais ou menos, quatro meses de namoro e não simplesmente entendo que acabou o que nem começou e lhe esqueço. Até porque sei muito bem que não lhe marquei, com a mesma intensidade que você me marcou e que para você todo esse circo que eu to armando, agora, não passa de uma mera historinha engraçada que você terá para contar para seus amiguinhos, e não duvido nada que ela não seja a única que você tenha na sua coleção, medíocre de historia para se divertir a custa do sofrimento dos outros. Sim estou sendo o mais pejorativo que consigo, pois só consigo me sentir um pouco melhor se lhe vê sofrer ao menos um pouco, e não apenas me sorrir com fazia de costume, e o pior que é que eu acho esse sorriso à coisa mais linda do mundo, ou costumava achar, não sei... Pronto já falei de mais, e acho que... Como assim? Você esta doido? Quer pensar sobre o que falei e conversarmos novamente amanha? Não sei se tenho... Ta me liga... É ainda o mesmo numero. Claro que vou esperar. Pois beijo então, já vou, mas... Claro que vou atender, ta já estou indo. Até amanha.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Depois do Ponto

E foram felizes para sempre. Pronto terminou a historia? Mesmo antes de começar aparte que mais iria interessar a todos, vai alguém lá e coloca o ponto final, mas seria exatamente nesse momento que mais nos identificaríamos com os personagens, pois é nessas horas que eles vão começar a passar pelos problemas que todos nos passamos nas relações, visto que, o feliz para sempre é apenas o inicio das melhores e das piores historias das relações, porém sem as mesmas não teria valor nenhum amar alguém. É depois do feliz para sempre que começamos a ver as brigas, os desentendimentos as confusões, o que verdadeiramente acontece no dia-a-dia, será que é exatamente para dar esse gostinho de que tudo pode ser perfeito que os autores de historias românticas terminam no feliz para sempre? Aqui to, logo depois do ponto feliz para sempre da minha historia romântica e sinto que exatamente agora vou viver as melhores e piores coisas da relação, não me arrependo, pelo contrario, estou ansioso para ver o que espera os casais depois do feliz para sempre, depois do sim eu aceito casar, namorar, ficar, dentre tantas outras palavras que iram estabelecer que aquelas duas pessoas a partir de agora deixam de serem amigos e começam a ter uma relação amorosa. Talvez as histórias românticas terminem nessa parte mais bonita das relações, pois mal sabem elas que o melhor vem agora e que apenas passando desse ponto que realmente vai se saber o que fez aquelas duas pessoas, que a pouco não passavam de dois estranhos, quererem construir algo, mesmo avento tantos contras e poucos prós. Mas a vida é feita de riscos e quem tem medo de arriscar é melhor deixar a vida de lado. Cansei de devanear vou levantar e ver o que me espera, ou melhor, o que nos espera depois do ponto final e mesmo que esses contras possam parecer mais numerosos, dependendo do ponto de vista eles podem nos servir como uma espécie de vídeo game, quando se passa por varias fases,e principalmente as mais difíceis sempre vêm alguma bonificação no final, acho que no nosso caso a bonificação veio no começo e se acaso ao final tenha outra, será uma forma de saber que valeu mais apena do que pensei no início. E foram viver a suas vidas sem medo de quebrar a cara e com uma vontade muito grande que tudo desse certe, pois só assim podiam ser felizes por mais um dia.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Regras de mercado

Tinham se conhecido há pouco tempo, por isso, não tinha coragem suficiente para ligar, pois quando se estar no inicio de algum relacionamento, as pessoas acabam virando um verdadeiro produto, pois tem que se fazer de difícil, mesmo que esteja louca para diz sim posso sair hoje, deve dizer, não estou muito ocupado quem sabe da próxima vez, fora aquelas outras regrinhas que todo mundo já sabe, de demorar ao menos uns dois dias para ligar novamente, quando a outra pessoa ligar deixar tocar um pouquinho para não parecer que você passou o dia todo com o celular na mão só olhando se não chegou nenhuma mensagem ou alguma chamada não atendida e a mais clássica de todas é sempre atender o telefone dizendo que estar muito ocupado, mesmo que esteja sem fazer nada. Sabia de todas essas regras básicas de relacionamento, porém não conseguia seguir, a ansiedade era mais perturbadora do que a lógica, não tinha coragem o suficiente para ligar, mas talvez escrever uma mensagem satisfaria o incomodo. Pegou o celular e começo a escrever varias coisas. “To com muita saudade, podemos nos ver amanha. Boa noite” muita, é um adjetivos de intensidade que da ideia de desespero, resolveu apagar tudo e tentar novamente. “Ouvi uma musica agora, que me fez lembrar de você, por isso, to lhe enviando essa mensagem”, mas nem estava ouvindo nada, e não é bom mentir no começo da relação, vai que depois pergunta qual era a musica e teria que pesar rápido, não melhor tentar de novo, talvez se usar algo que a outra pessoa havia comentado muito fosse uma boa ideia. “Talvez eu goste muito de beijar mesmo, pois queria um beijo seu agora. Boa noite” sabia que não estava bom, mas quanto mais pensava maior a probabilidade de erra, no que realmente queria escrever na mensagem. A coragem para escrever já havia sido usada, agora só faltava à coragem para enviar, releu varias vezes e quanto mais lia mais se arrependia do que havia escrito, foi até agenda do telefone procurou nome, leu mais umas cem vezes a mensagem e mesmo com duvida se o conteúdo estava bom resolveu mandar. Fechou o olho, respirou fundo e apertou o botão antes que desse tempo de se arrepender. Pronto já tinha feito o que todas as regras da paquera mandavam não fazer, mas erra o preço que já estava pago por não conseguir segurar as vontades. Agora era espera por uma mensagem como resposta. Nada melhor para passar o tempo do que escrever, ligou o computador e começou a escrever algum texto, qual quer coisa para fazer com quer não olhasse tanto para o celular, tentava escrever, porém tudo tinha haver com o que estava passando, por isso, resolveu desistir. Já estava quase dormindo quando, quando viu que o celular estava tocando. Correu para atender, olhou no visor e viu que era a pessoa da mensagem, o coração disparou, fechou os olhos, respirou fundo e apertou o botão. Alo.

terça-feira, 23 de março de 2010

Dizem que os humanos vêem coisas

Já tinha certeza que estava sendo seguindo, porém continuou andando, pois preferia fingir que não tinha notado.
Sabia que a pessoa a sua frente já havia notado que estava sendo seguida, porém só descansaria quando falasse o que não conseguia mais calar.
Cansado de fingir que não havia notado que estava sendo seguido virou-se.
Assustou-se com a rápida reação e abruptamente falou a primeira coisa que veio a cabeça.
- Oi... Como você esta. Certamente não erra essa a frase que falaria caso tivesse pensado mais alguns segundos
-Bem e você. Talvez com poucas palavras conseguisse mostrar que não estava com vontade de conversar.
-Bem...
-Pensei que não tivesse vindo não havia lhe visto. Ok já havia trocado palavras de mais.
-Sério. Com certeza erra mentira, mas não tinha como provar ao contrário.
Não tinham mais o que falar e já que a cara já estava à tapa, por que não dar a outra face? Levantou as mãos tremulas que não agüentava mais esconder e levou-as ao rosto a frente, talvez não fosse o toque mais suave que podia realizar, mas era o mais sincero capaz de ser feito, e lentamente foi aproximando os dois rostos ate trocarem, mesmo que sozinho, um leve beijo, talvez aquele tocar de lábios nem merecer-se o nome de beijo, porém como não existi outro nome na língua portuguesa para quando dois lábios se tocam por mais tempo que um selinho, por isso resolveu chamar de beijo.
Será que não tinha notado que não queria trocar mais nenhuma palavra, talvez sim já que calara. Podia ver nos olhos uma hesitação, mas que passou rapidamente, pois logo as mãos nervosas estavam fazendo o percurso do rosto, aceitou-as mesmo que o toque não tivesse sido muito delicado, deixou-as guiar o rosto mais a frente, de perto da para notar como aqueles olhos tinham medo da ação que o cerebro planejava mesmo que inconscientemente fazer, o plano não demorou muito a ser sentido pela boca. Fora tão rápido que nem teve tempo para decodificar o beijo.
Saiu sem nem olhar para traz, continuou andando, porém com uma vontade boba de que as coisas que acontecem em filmes acontecessem exatamente naquele momento, mas mesmo assim não olhou para traz, pois havia deixado o recado que teimava em querer ser expresso.
Ficou parado tentando imaginar, ou fingir que não conseguia entender, o que aquele beijo poria representar, viu as mãos nervosas se distanciarem e por alguns segundos pensou ver hesitação na direção, mas fora engano, pois nunca viu uma determinação tão verdadeira em um corpo.
Saiam cada um com sua visão sobre a mesma ação, nenhum tinha a coragem de perguntar o que o outro pensava, pois a melhor verdade é a mentira que contamos para nos mesmos.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Jogadores.

Estavam nus como dois estranhos a se observar. Talvez não nos dois, mas era notório que no olhar de um deles era possível perceber que já era impossível negar as certezas e duvidas que estava sentindo, ou quem sabe fosse uma presunção achar que em apenas um deles isso estava acontecendo, porém isso não importava. A cama estava novamente quente, talvez já devesse ter sido usada por outros amores, e amantes casuais, mas nesse momento isso não importava, visto que, o real incômodo estava no silêncio que já esta reinando por alguns minutos. Nada pior que um silêncio, pois mesmo sabendo que o intervalo entre uma apalavra e outra é o silêncio, toda via deviam já ter notado como um silêncio duradouro incomoda mais do que um barulho perturbador, quem iria ter a coragem de dissolver-lo? Talvez através dos olhares fosse melhor falar, já que tinha sido através de olhares que acabaram se conhecendo. Olharam-se observando cada palavra que estava sendo trocada, nada e tudo a dizer, o medo de dizer a coragem para calar era o que estava sendo transmitido através dos olhares trocados. Olhares sempre os culpados do começo de tudo, podiam muito bem ter fingindo que não estavam se olhando, ou talvez deixar passar, já que estava chegando à época das mascaras, e ninguém pretende estar em uma relação nessa época tão volátil e fértil que são os dias de mascaras. Será que era hora certa de falar o que os pensamentos já não podiam calar? Talvez fosse muito cedo para falar, ou tarde de mais para calar, quem sabe o que faltava era a covardia para dizer, e assim apostar todas as fichas em um jogo que havia começado há tão pouco tempo e as regras ainda serem tão desconhecidas, sem falar do cansaço que um dos jogadores poderia ter dos jogos de outrora. E tudo por culpa dos olhares. Olhar todo o culpado de toda aquela loucura, talvez a maior loucura dos últimos dias, pois se envolver com alguém na época das mascara deve mesmo ser a maior loucura que alguém pode fazer. Mas mesmo sem querer já estavam jogando, e em um jogo só existe duas alternativas, ou se para, pois estar com medo de apostar, ou se joga até o fim. Ali estavam nus como dois jogadores a se observar.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Paixão

Quem nunca provou
o veneno da rosa
não vai enterder
o que quero falar.

Deixo de lado as
palavras, pois
elas ja não podem
me entender.

Como é doce beber
do veneno das rosas
mas só quem ja provou
é que vai me entender.