quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Basilar

Pegando os pedaços, a impressão é
De que as partes são maiores que o todo.

Das partes, recanto a musica do todo,
cheirando o todo das partes.

Do todo, os olhos selecionam  as
Partes que fazem continuar em um.


Tenho partes do todo, e todos da parte.
R    E    C    O    L    H    O....  recolho


                                              JUNTO.


ciclo...

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Cães tanatos

 Coveiro 1: Manda este cachorro parar de latir.

Coveiro 2: Para!

Coveiro 1: Ele não está parando. Vamos mande com mais coragem.

Coveiro 2: Para, seu animal estúpido!

(Som de cachorro, chorando)

Coveiro 1: Pronto agora ele já foi em borá.

Coveiro 2: Acho que já está profundo de mais, podemos parar.

Coveiro 1: Falaram que o buraco era para caber duas pessoas. Você sabe a historia?

Coveiro 2: Suicídio. Estamos em agosto, não sei o motivo de haver tantos suicídios. Normalmente o numero aumenta só em meadas de dezembro.

Coveiro 1: Verdade. Só essa semana eu já enterrei dois. Um era um menino de 25 anos que pulou do prédio em que vivia. Os vizinhos comentavam que dava para escutar ele dizendo (imitando) Pareeeee!O outro foi uma senhora de 25. O povo comentou que ela tomou dez comprimidos para dormir. Enfileirou todos, tomou um por um e antes de cair no sono ligou para a amiga e disse: (imitando) Acho que estou com um pouco de sono vou dormir, me ligue só amanha.

Coveiro 2: Nossa. (continua cavando) Acho que agora está bom. (medindo o corpo do outro) São sete palmos. Buraco suficiente para caber dois caixões.

Coveiro 1: E cadê eles que ainda não chegaram? Que horas são?

Coveiro 2: São 4 horas e 45 minutos. Acho que vão chegar só as seis da manha.

Coveiro 1: Então o que nos resta?

Coveiro 2: O que nos resta é esperar.

Coveiro 1: Me entrete um pouco em quanto esperamos.

Coveiro 2: Ele ligou para ela, no dia do aniversario de casamento deles atirou.

Coveiro 1: Ele quem? Ela quem? Atirou?

Coveiro 2: Ele, (aponta para o buraco, e lembra que ainda não chegaram). Ele, (aponta para porta, e ver que ainda não chegou) Ele, que esta por vim. O suicida.

Coveiro 1: Ok, prossiga.

Coveiro 2: Era o aniversario de casamento deles, os dois que estão por vim (explicando). Ele disse para ela chegar em casa só lá pelas oito da noite, pois ele iria fazer uma surpresa. Quando deu sete e pouco, ligou novamente, disse que ela já podia vim, pois em dois minutos a surpresa estava pronta. E ai atirou.

Coveiro 1: Ai, quando ela chegou, olhou para ele deitado no chão, pegou a arma e falou: (imitando) O meu amor, por qual motivo fez isso, e nem uma bala me deixastes. Engano meu, ainda há uma bala. Sim irei ao seu encontro, e juntos ficaremos.

(os dois dão risadas)

 Coveiro 2: Não, foi um pouco menos Romeu e Julieta. Ela o viu deitado, com o sangue e miolos todos espalhados e tomou um litro de vinho, sem lembrar que já havia tomado seus costumeiros remédios antidepressivos. No casso dela, nem pode dizer que foi suicídio.

Coveiro 1: Mas, e vão enterra os dois juntos?

Coveiro 2: A família pediu.

Coveiro 1: Merda.

Coveiro 2: O que foi?

Coveiro 1: Lá vem a merda daquele cachorro de novo.

Coveiro 2: E o que fazemos?

Coveiro 1: Não sei, mas ele já vem latindo, e isso me enche o saco.

Coveiro 2: Deixa ele latir, dizem que os cães vem coisas, e seus latidos espantam almas que estão vagando.

Coveiro 1: Mas, não quero ele no meu pé.

Coveiro 2: Então vamos entrar nesse buraco.

Coveiro 1: Mas é uma cova, eu mesmo não entro.

Coveiro 2: Só é cova, quando tem algum caixão dentro, antes disso é só um buraco.

(Ditam-se os dois)

Coveiro 1: Ele ainda não parou de latir, que merda isso ta me enchendo o saco!

Coveiro 2: Mas ele vai já para.

Couveiro1: Pareeeeee!

(Silencio, por um tempo)

Coveiro 2: Acho que estou um pouco com sono vou dormir.

(Som de latido se distanciando)

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Pedaços de um presente

Hoje, depois de muito se sabotar, ele resolveu ser mais fraco que a tentação. Passou vários minutos  apenas olhando para o guarda-roupa, pois queria ter a certeza de que não conseguiria ser mais forte que sua vontade. Levantou-se lentamente, caminhou, colocou levemente os dedos na porta do guarda roupa, e o abriu. Olhou para dentro, e em poucos segundos encontrou a caixa amarela, que há quase uma semana guardava. Seus dedos cuidadosamente a pegou e juntamente com um suave movimentam a transportou para perto do peito. Voltou a sentar-se na cama. Olhou firmemente para a caixa amarela, que ainda esta lacrada. A vontade de tirar o lacre era tão grande, que antes que pudesse perceber já havia jogado-o no chão. Havia adorado receber aquele presente, porém o fato de saber que era um presente efêmero e que em mais ou menos dias ele iria passar, lhe consumia. Após a retirada do lacre, a pressa para abrir a caixa ficava cada vez maior. Antes de abrir, prometeu a se mesmo que não iria retirar nenhum dos objetos que dentro dela estivesse, era apenas um ato de observação. Promessa que não durou mais do que cinco minutos, pois quando desesperadamente abriu a caixa, logo viu todos aqueles bolinhos de alfajos enfileirados. Parecia que o papel dourado que recobria cada um deles, implorava piedosamente para ser descascado e jogado ao lixo, pois ele não era digno de guarda por mais tempo os alfajos. Como entendera a vontade dos papeis laminados, rapidamente pegou um dos alfajos em sua mão, escolhera o de chocolate branco. Ao desembrulhar pode perceber o motivo pelo qual evitara tanto abrir a caixa, pois o simples fato de ver o alfajor, já lhe deixava consciente que o descontrole iria chegar como dominador da cena. A primeira mordida já anunciava a chegada da vontade da segunda, que por sua vez trazia o desejo da terceira, seguida da loucura pela quarta e mais uma e mais outra. E, o fim. Ao terminar de comer, fechou rapidamente a caixa, antes que os olhos se tornassem cúmplices do desejo. Coisa que foi inevitável, pois um pequeno pedaço do papel laminado, que insistiu em refletir a luz, já serviu de anunciação para o próximo alfajor que iria ser comido. Este seria o último que iria comer naquele dia, e mesmo que não fosse, iria comê-lo come sendo. Lentamente degustava-o, e ao final de alguns momentos de satisfação, fechou rapidamente a caixa e a colocou atrás de todos os seus livros, pois só assim conseguiria resistir. Como os alfajos não iriam durar para sempre, resolvera guardar os papeis que os cobriam como forma de lembrança. O gosto do alfajor ainda estava em sua boca. Era um sabor tão peculiar e delicado, que só perdia para o sabor do beijo da pessoa que o havia lhe dado de presente.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Para você

Acordei com um sonho em você.
Uma visita noturna muito oportuna.
Que ao acordar, fechei os olhos para voltar.

Era um dia claro, estávamos mais uma vez em BH
No jardim, que só nós conhecemos,
seu sorriso  aberto, foi o que primeiro vi.

Tua boca,  pescoço e orelhas
eram os locais que meus lábios mais
estavam gostando de passear.

O sol continuava lindo, como da última vez em BH
Você nos meus braços, local tão seu
Eu nos seus braços local tão meu.

Sabe, amanhã te conto mais sobre o sonho de BH.

domingo, 10 de julho de 2011

Esperando

(Duas mulheres, conversando enquanto fumam um cigarro)

Personagens:
Mulher com cigarro verde: CV
Mulher com cigarro rosa: CR

CV: Você já pensou em pular de um prédio?

CR: Não, nunca pensei em pular de um prédio.

CV: Mentira! Todo mundo já pensou em pular de um prédio.

CR: Mas eu nunca pensei.

CV: Sabia que as pessoas normalmente não morrem por causa da queda!

CR: Coisa que não importa muito, pois, no final, elas acabam mortas da mesma forma.

CV: Contaram-me, certa vez, que uma mulher, que havia pulado do vigésimo andar de um prédio, estava com a face feliz, e com uma mancha de sangue que lembrava um halo. Acho que ela estava sorrindo, pois havia sentido o vento no rosto.

CR: Mas ela estava morta, não importando o sorriso.

CV: Eu já pensei em pular do meu prédio, mas ainda não fiz. Acho que todo mundo já pensou em pular do seu prédio. Você não?

CR: Já lhe disse que não. Além do mais, moro em uma casa.

CV: No caso de quem mora em casas, acho que normalmente pensam em se envenenar, ou quem sabe dar um tiro no meio da cabeça. Alguma dessas coisas você já pensou?

CR: Nenhuma delas. Veneno, dizem que dói muito o estômago, e eu já tenho gastrite, acho que não vai ser muito bom. E da um tiro na cabeça, não Deus me livre. Quero ter um velório de caixão aberto.

CV: Ok, se você fala que nunca pensou em se matar, então é por que você não é normal.

CR: Que horas são? Meu relógio parou.

CV: Desculpa, o meu também parou.

CR: Que chato, pois acho que tenho de ir.

CV: Sem problemas, só cuidado, está chovendo muito, e 90% dos acidentes de carro acontecem nesse período do ano.

CR: E a pneumonia também aumenta, além de bronquites.

CV: Mas acidentes de carro, são mais perigosos.

CR: Ok tudo bem, mas de qualquer forma eu vou ficar aqui mesmo.

CV: Então quem vai sou eu,pois já estou atrasada. Adeus.

CR: Adeus. Você tem outro cigarro? O meu acabou.

CV: Sim tenho, toma. Pode ficar com todos, estou parando de fumar. Não quero morrer de câncer.

CR: Dessa forma, nem eu. Joguemos fora o cigarro.

CV: E não esqueça de parar de comer coisas com conservante, ou beber refrigerantes.

CR: Tudo bem, já não faço isso normalmente.

CV: Desculpas, mas tenho de ir mesmo.

CR: Tá, em que andar estamos mesmos?

CV: No vigésimo. Estou indo então.

CR: Cuidado e adeus.

sábado, 9 de julho de 2011

Durante um sonho e outro

Durante as noites tontas, ela vem me visitar.
Percorrem e marcam seus caminhos, por natureza.
Seus nascimentos são culpa de um sofrer de amor.
Amor este, que não entende o que tem.

Ao passarem pela face, deixam o cheiro da vontade
Vontade boba de querer o que longe se encontra.
Não importo, eu as guardo com carinho do sofrer.
Entre mão ou lenços a protejo.

Bobo, quem não percebe que elas são verdadeiras.
Cultivá-las em alegria seria melhor, pois,
dessa forma, elas vão um dia secar.

Peço, conserve no sentimento de origem.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Quase Amante

(Dois personagens não importam o sexo)

1- Você já vai?(silencio). A porta fica a esquerda.

2- Você não vem abrir?

1- Foi você que decidiu ir. Não estou lhe mandando embora.

2- Mas não fui eu que me troce até aqui. Por Favor, abra a porta.

1- Sabe, tem uma lenda que diz que se abrimos a porta para a pessoa que está em nossa casa, é porque queremos que ela volte a nos visitar.

2- E você não quer?

1- Não da forma que você se propõe a vim.

2- Já cansei de suas bobagens e seus gritinhos histéricos (silencio). Onde fica mesmo a porta?

1- A porta fica a esquerda.

2- OK. Tenha uma boa noite.

1- Para você também.

2- (vira-se para traz) A porta estar trancada. Por favor, venha abrir a porta.

1- Não sei onde coloquei as chaves (procurando nas roupas). Deve ter caído pelo chão, quando você tirou minha roupa.

2-Procure! Por favor.

1- Me ajude a procurar, não sei se vou me lembrar. Estávamos fazendo sexo.

2- Você estava fazendo sexo comigo.

1- Foi você que tirou minha roupa. Pelo que sei, foi você que quis.

2-Queria, mas no meio do caminho me arrependi. Cansei de saber a ordem exata dos acontecimentos. Gozei só por costume.

1-Achei as chaves. Pronto pode abrir a porta.

2- Por Favor, venha abri a porta para mim.

1- Já contei para você a historia de que quando abrimos a porta para alguém é porque queremos que essa pessoa volte para nos visitar?

2- E você não quer que eu venha lhe visitar?

1- Não da forma que você pretende.

2- Tudo bem. Além do mais, você já me contou essa historia varias vezes. Foi assim que eu vim aqui pela segunda vez, você havia aberto a porta.

1- A chave esta na sua mão já pode abri a porta.

2- E você não vai abri-la para eu sair?

1- Não!

2- OK, não precisa desses seus gritos histéricos, já disse que não gosto.

1- Desculpas.

2- As chaves.

1- Já estão em suas mãos.

2- A sim. Desculpa.

1- Pode deixar, eu abro a porta.

2- Obrigado.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Volta ao preto

Oi vizinha, senta ai. To precisando tanto conversar com alguém. As mesmas coisas de sempre. Posso lhe contar? Hoje ele tinha prometido me visitar. Acordei logo pela manhã, fui ao mercantil. Sabe ontem à noite, como eu já sabia que ele iria chegar hoje, olhei umas revistas de receitas, para procurar uma receita nova, que pudesse fazer para nós dois. Resolvi fazer um frango ao molho de laranja com cenoura e gengibre. Nem gosto muito dessas comidas diferentes, mas como sei que ele é todo metido a chique, iria fazer para agradá-lo. Compre o peito de frango maior que encontrei no mercantil, escolhi todos os ingredientes sem a menor pressa, conta até que não deu muito caro. Não havia decorado, muito bem, como fazer a receita, mas fui experimentando. O cheiro estava tão delicioso, modéstia a aparte, acho que a minha receita ficou melhor que a original. Com esse tipo de comida sofisticada, acho melhor fazer apenas um arroz branco normal, para acompanhar. Minhas mãos estavam fedendo a alho, e enquanto o arroz cozinhava, fui tomar um banho. Dava para sentir, do banheiro, o cheiro da comida. Ele iria gostar tanto. Sabe, às vezes, quando ele ta comendo minhas comidas, talvez ele nem perceba, mas fico só olhando de canto de olho para a cara dele, só para ver suas excreções de satisfação, me sinto tão bem quando sei que fiz um almoço todo especial para nós e ele gostou. Terminado o banho, passei um hidratante, e fui retirar as panelas do fogão. Ele diz que não gosta de comida muito quente, por isso, deixo tudo preparado uns vinte minutos antes dele chegar para poder ficar mais morna. Deitei no sofá que fica perto da janela da sala, fiquei só espiando para ver o momento exato que ele chegasse e eu correria para abrir o portão. Já eram doze e meia, mas ainda estava calma, pois é normal, ônibus podia ter atrasado ou o engarrafamento podia estar muito grande. Dez para uma e ele não havia chegado ainda, comecei a ficar sem paciência. Todo barulho que ouvia, lá fora, corria para o portão, porém era o cara que passava na rua, ou então uma mulher querendo vender biscoito "Não senhora eu não quero". Já era quase uma e meia e ele ainda não havia chegado. Não, essa não é a primeira vez que ele fura comigo, eu até já pressentia que isso podia acontecer, mas antes, ao menos, ele me ligava para cancelar, nem que fosse na hora, mas ligava. Dessa vez nem isso. Já eram quinze para as duas, cansada de esperar, fui até a cozinha. A comida já estava mais que fria, não tive a menor vontade de comer. Quando se faz uma comida para dois, ela só tem sabor se for a dois, comer sozinha não vai ter nem sabor. Aquela comida me embrulhava tanto o estomago, resolvi jogar no lixo, sei que tem gente passando fome, mas eles que entendam meu momento. Fiz um ovo com pão só para não ficar sem comer, e fui dormir. Você precisa ir? Não vizinha tudo bem, brigada por me escutar. Não, estou bem, e se não tiver, uma hora fica.

sábado, 28 de maio de 2011

Encontro casuais

Ele sabia muito bem como me machucar. Parecia que se divertia as minhas custas, normalmente me doeria um pouco afirmar isso para mim, mas como sei que isso vai ficar só entre nos estou disposta a continuar. Estávamos juntos há um pouco mais que alguns meses. Datas nunca foram meu forte. Quando começamos, ele sempre tinha palavras na manga para me impressionar. Tenho certeza que posso lhe confirmar que foi ele o primeiro a dizer eu te amo, meio que entre os dentes, mas foi ele sim. Mas agora, nos últimos dias, eu mal conseguia arrancar uma palavra de carinho da boca dele. Olha que eu não sou uma mulher difícil de conseguir isso dos homens não viu. Sou boa de cama, carinhosa e cuidadosa. E fora que... Não, não vem ao caso. Mais do que presente caros, perfumes importados, jóias, nos mulheres, gostamos é de carinho. Sabe às vezes um bilhete, nem que tenha sido escrito de ultima hora, e mesmo que tenha a escrita errada e a letra feia, guardamos com todo carinho do mundo no guarda-roupa. Quando não, só dormir junto, feito conchinha, sentido a respiração e o batimento do coração um do outro, já nos são o bastante. Acho até que é ousadia minha disser que só mulher gosta disso, todo mundo gosta, mesmo que não queria dizer. Estou confiando muito, falando de mais. Tudo bem, você é mesmo um estranho para mim, e sei que daqui a uns quinze minutos, isso sendo exagerada, você vai ter esquecido as minhas confidências, mas saiba que para mim isso esta sendo um alivio. As pessoas hoje estão assim mesmo, como nos dois, só se preocupam com elas mesmas. Por exemplo, você só esta ouvindo isso tudo, ou porque você não esta ocupado no momento, ou talvez para se sentir melhor sabendo que existem pessoas, que pelo menos nesse momento estão pior que você. Eu to falando isso tudo, porque sei que você não esta nem ai para sair contando minha historia mesmo, além de ser a única forma de eu poder me sentir um pouco aliviada. Talvez seja por isso que os relacionamentos não tão indo mais pra frente. Não por mim nem por você, claro, mas por todos. To desviando muito do assunto que eu queria falar, que era dele, mas tudo bem, isso pode se um bom sinal, pois até que enfim estou me esquecendo dele, ao menos em uma conversa. Acho que já lhe prendi de mais. Qual quer dia desses, se nos cruzarmos na rua e você se lembrar de mim, nos falamos. E se perguntar se estou bem, vou virar e lhe dizer que sim, como todo mundo faz.

domingo, 15 de maio de 2011

Um lugar que só nós conhecemos

Todos os dias pela manha, ele acordava, se vestia o mais rápido possível, quase não tomava o café da manha e pegava o caminho da escola. Fazia tudo bem rápido, pois sempre se atrasava para o inicio da aula, não por acordar tarde, mas por ter algo que sempre lhe deixava perdido no caminho. Eram exatos cinco minutos de caminhada, para chegar à frente da loja de brinquedos. A loja em si não tinha nenhuma beleza especial. Era apenas mais uma casa antiga, que havia sido comprada por um empresário, que não tinha noção de preservação historia e, por isso, destruiu toda a fachada da casa, colocando no lugar uma placa enorme. O que havia lhe prendido atenção nos últimos quatro ou cinco meses, sendo assim o motivo do atraso, era um pequeno castelo de porcelanato. Lembrava-se muito bem da primeira vez que o viu. Era um dia comum, que se tornou especial, pelo mero motivo da olha para dentro da loja de brinquedos, e sem a menor pretensão perceber a presença de um castelo bem pequeno, porém que brilhava muito, ou, ao menos, o bastante para fazê-lo para e ficar. Depois daquele dia, começou a deixar de lanchar na escola, de comprar bombons e até de sair com os amigos, só para poder juntar dinheiro. Passou quase três meses nesse jejum, e quando juntou o dinheiro que achou ser suficiente, saiu mais cedo de casa, foi correndo até a porta da loja, e lá permaneceu por quase duas horas. Foi então que um homem alto, magro de cabelos curtos abriu a loja. Entrou desesperadamente, e foi logo pegando o castelinho na mão, ele era pequeno, simples, porém era o que ele mais queria. Levou o castelo até o caixa, tirou toda a moeda do bolso e entregou. Não pensou duas vezes e já foi saindo da loja, porém uma mão grande e fria, o segurou pelo braço. O dono da mão foi logo dizendo, em alto e bom tom, que o valor era insuficiente para a compra, e que ele não poderia levá-lo agora. O menino, tristemente, entrega o seu castelo e sai da loja. No momento que saiu da loja, seu olhar era triste e despretensioso. Nesse dia resolveu até volta para casa, justificando para os pais, que estava com muita dor de cabeça. No outro dia acordou, porém dessa vez não tinha motivo para correr. Saiu de casa lentamente e mais uma vez foi seguindo o caminho da escola. Ao passar em frente à loja, viu novamente o castelo na vitrine, parou por alguns minutos. Novamente sentiu o peso de uma mão na suas costas, quando se virou, pode perceber que era o mesmo homem do dia anterior. O homem entre sorrisos lhe contou que o valor que faltava para comprar o castelo não era muito, e se ele conseguisse ao menos mais algumas moedas, ele podia até da um desconto. O menino animou-se, tão rapidamente, como se tivesse recebido uma injeção de energia. Ali, no silencio do pensamento, olhou para o seu castelinho e pensou que se ele já havia sido dele, mesmo que por alguns minutos, ele iria se esforçar para poder novamente o conquistar, mesmo que isso levasse um tempo.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Deux ou trois

Não adiantava fechar os olhos e fingir que o sono iria chegar nos próximos dois minutos, ou no máximo três, como costumeiramente ocorria. Desde que se entendia por gente, o sono era super pesado e rapidamente vinha, porém no tempo presente, o costumeiro seria descartado. Olhava para cima, para um lado, para o outro, virava de ponta cabeça, de cabeça à ponta. Travesseiro no meio das pernas, travesseiro na cabeça, dois travesseiros, travesseiros no chão. Lençol na cabeça, lençol nos olhos, calor, frio, chão. O incomodo interior, não se limitava a ficar só no interior, mas se propagava. Será que no amanhã, quando a noite já fosse parte do ontem, e o futuro já estivesse, ao vivo e a cores, iria se sentir melhor? Às vezes, pensava que havia feito o melhor, e durante dois ou três minutos fechava os olhos, tendo a certeza que iria conseguir cai no sono, porém bastava uma leve brisa de duvida, e pronto, o furacão estava instaurado, e seria necessário mais vinte ou trinta minutos, para novamente se enganar e, dessa forma, conseguir mais um tempo de certeza. Pegou o telefone, olhou o horário. Já passava dois minutos das três da manha. Não adiantava nem ligar, pois o horário já era muito avançado. E mesmo assim o que iria falar? Tudo havia ficado combina. Não havia mais espaços para duvidas, nem desfeitos. Quem sabe em outro tempo, em um tempo em que a delicadeza já tivesse se instaurado novamente. Mas no tempo presente, o melhor era recolher todo o sentimento.

Odiava leite quente, mas como as pessoas falavam que era bom para insônia, resolveu fazer uma xícara, pois sabia que o único problema que poderia resolver naquela noite era a insônia. Foi até a cozinha, pegou o leite na geladeira e colocou para ferver. Como uma forma de esvaziamento do pensar, ficou olhando atentamente o leite. O branco. Depois de uns dois ou três minutos, o leite começou a borbulhar. Pegou a xícara e colocou o leite ainda fervendo dentro. Voltando ao quarto sentou-se na cama. O leite já estava morno, talvez fosse nessa temperatura que ele ajudasse o sono a chegar mais rápido. Bebeu, quase queimando a língua, mas bebeu. Deitou-se. Olhava para cima, para um lado, para o outro, virava de ponta cabeça, de cabeça a ponta. Travesseiro no meio das pernas, travesseiro na cabeça, dois travesseiros, travesseiros no chão. Lençol na cabeça, lençol nos olhos, muito calor, pouco frio, chão. Dois ou três minutos depois, levanta-se. Sabia que banho morno ajudava a dormir. Foi ao banheiro, despiu-se lentamente, sentou no aparelho por uns dois ou três minutos, entrou no boxe e tomou um longo banho de dose ou treze minutos. Preferiu não secar o corpo, vestiu-se ainda molhado e voltou ao quarto. O mal estar podia não ter passado mais o calor sim. Novamente deitou-se. Olhava para baixo, para cima, para o outro, para um lado, virava de cabeça a ponta, virava de ponta cabeça. Travesseiro na cabeça, travesseiro no meio das pernas, dois travesseiros, travesseiros no chão. Lençol na cabeça, lençol nos olhos, pouco calor, muito frio, chão. Lembrou-se que uma vez, depois de ter viajado durante varias horas de carro, havia tomado Dramin, um remédio que normalmente resolvei o problema de enjou, porém nele dava um sono enorme. Foi até cozinha pegou a caixa de remédio e tomou uns quatro ou seis Dramins. Voltou ao quarto e ficou deitado, como se estivesse a beira d’água esperando o riacho parar de correr. Dois três. Parou.



sexta-feira, 18 de março de 2011

Gravidade

Sabe, a realidade é assim, nua e crua, posso dizer que mais crua do que nua, pois ela vem em um prato de prata, com o sangue ainda escorrendo pelas bordas da bandeja, além de o másculo continuar pulsando vermelho e cheirando a frigorífico. Porque não dizer que ela também pode estar mais nua do que crua? Tão nua e amostra, que fechamos os olhos, rezando, para quando os abrir ela tenha ido embora ou, ao menos, se metamorfizado em algo mais bonito para se ver. Há sentimentos que nascem mesmo sem terem nomes, ou seus nomes são uma mistura de vários outros, formando neologismos que por não terem um sentido coletivo, acabem só tendo sentido para nos mesmos e, dessa forma, nos fazendo voltar ou ponto zero, tendo em vista, a impossibilidade de haver comunicação. Quem sabe, se falássemos alemão teríamos a oportunidade de conseguir dizer o que sentimos, ou talvez deva ser apenas só mais uma baboseira da filosofia. Quando se sabe que a dor de morrer nem sempre é a mesma de deixar viver, e se têm a consciência de que a realidade se apresenta nua e crua, e em proporções desproporcionais, tornando o ato de respirar já não tão comum, fazendo o sentir já não só ter sensações e o andar não só ser ir para frente, e assim, tudo vai ficando em rede, misturado em pensamentos e compreensões, que nem sempre lhe deixa em um eixo de equilíbrio confortável. E sem a menor duvida, nasce, cresce e morrer, se compreendendo em ciclos que podem refazer-se em si mesmos, sabendo que a cinza é o adubo do começo, e o começo nem sempre estar no sentido do ciclo passado.

Talvez seja durante a infância que temos os melhores momentos, pois tudo nos é bastante claro, e a certeza do pouco já e suficiente para ir ao colégio, comer, dormir, brincar, fazendo e refazendo esse ciclo todos os dias, repetidas vezes, por anos, sem precisar nem saber onde tudo vai dar. É durando o processo de amadurecimento, que raramente acontecesse de forma lenta e gradual, como normalmente é narrado por professores, é que descobrimos a realidade crua e nua. São em momentos específicos, e não graduais, que somos visitados, sem aviso prévio, pela vida. Ela vem e nos dar duas bofetadas na cara e nos faz crescer aos pontapés. E assim seguimos com medo e a passos maiores que as pernas, porém seguimos, fazendo ciclos e mais ciclos, alguns viciosos, outros libertários. E assim, em saltos, descobrindo como a vida é nua e crua. Mas é assim que ela é.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Memórias afiadas

Daqui de cima, eles parecem menores, organizados e silenciosos. Nem se quer sinto me perturbado ou incomodado. De onde os observo agora, junto com esse olhar distanciado, ganho um titulo de admirador, e assim, talvez pela terceira vez, possa vivenciar essa orquestra. Contanto com hoje, já devo ter vindo aqui umas três vezes. Na primeira, vim por um impulso, coisas de criança, que com medo da bronca ou da peia dos pais, resolve se fazer de vitima, e assim conquistar o perdão rogado. Nesse dia, tinha a certeza que não iria fazer nada, mas o impulso sadomasoquista infantil conduziu-me, e depois de dois ou três berros e dois ou três choros histéricos, voltei, prometendo não fazer isso nunca mais, pois quase havia deixado minha mãe louca, coisa que não era muito difícil de fazer. A segunda vez tinha sua pitada de infância, pois no começo da adolescência, não saber resistir ao sofrimento de um amor não correspondido, é um pouco infantil mesmo que comum e subversivo. Havíamos nos beijado no da anterior, porém me justificou, no outro dia, que tudo tinha sido culpa da bebida. Como não queria sair por menos, disse que só não lhe meti a mão na cara, por consideração a nossa amizade, mas que se acontecesse uma próxima vez, podia ter a certeza que não iria deixar passar. Rimos. Toda via, os dias foram passando e fomos se distanciando e quando não pude mais resistir, fui a sua procura. Rapidamente me rejeitou e disse que nunca mais olharia na minha cara, pois toda aquela história tinha sido culpa minha. De lá, sem pensar nem duas vezes, vim aqui pela segunda vez, olhe firmemente, mas nenhuma brisa dionisíaca me ajudou, mesmo eu tendo a bênção de Eros. Acho que não sou filantrópico o suficiente para fazer de uma experiência minha um crescimento espiritual para os outros. Cada um que cresça a partir de se mesmo, e se aproveitando das sobras dos outros. Essas devem ter sido as vezes que precederam a de hoje, caso haja outras, não me lembro, mas também não duvido que tenha existido, pois constantemente esqueço-me de coisas que fiz, e só depois de duas ou três colheres de sopa de açúcar é que lembro ou invento e reinvento, podendo dessa forma descobrir ou descobrir o que o consciente prefere não me mostrar. O que importa é que aqui estou, esperando mais uma vez, que a brisa dionisíaca ou talvez o mandato do oráculo vertiginoso, possa fazer-me declinar do pedestal de admirador. Daqui de cima tudo parecem organizado, silencioso e acima de tudo menor.

terça-feira, 8 de março de 2011

welcome to the casonse.






welcome to the casonse.

Muros de pedra que protegem intimidades, relógios, livros e espelhos.

Espelho objeto responsável por mostrar, seja aguilo que queremos perder ou que não podemos suportar. Com suas molduras diversas espelham, mostram ou desmostram o além do provável olhar. Livros que desalinham pensamentos, alinham sentimentos, eixos e desleixos em planos paralelos inconcretos. E TUDO É inscrito no tempo, responsável por nos podar e nos fazer viver, comer, ler, amar e morrer.

E tudo é inscrito?

http://www.facebook.com/album.php?aid=29315&id=100001727031122

(veja o ensaio completo)


sábado, 5 de março de 2011

Outro dia

Odiava ir à praia, mas como morava em uma cidade praiana, era quase impossível não ir, ao menos uma vez por ano, nem que fosse por obrigação. Todo aquele calor, a areia que era quente e a água que era fria, parecia produzido atenciosamente para lhe perturbar. Dessa fez, o mundo se processou de uma forma diferente, pois ninguém havia lhe convidado para ir à praia, mas por conta própria pegou o carro e foi. Não tinham ninguém lhe esperando, mesmo assim aceitou o impulso. De início, tudo parecia o mesmo, o sol lá em cima, a areia, mesmo ainda sendo quinze para as oito, já estava muito quente e o mar parecia estar de ressaca. Sentou-se na barraca, pediu uma cerveja e ali sentado ficou. Odiava o ritual, que normalmente a maioria das pessoas faziam ao ir à praia, não entendia qual era a graça de ficar virando de um lado para o outro, se lambuzando com um bronzeado, como se fosse uma galinha de maquina da padaria. Sentado ao longe viu, próximo ou mar, um castelo de areia, que devia ter sido feito há alguns dias, pois as estruturas da parede já estavam cedendo. Levantou-se e foi olhar mais de perto. Era engraçado, como as crianças sempre ao chegar a praia, vão logo sentando se na areia, e começando a fazer seus castelinhos, seja com o auxilio de um balde, ou simplesmente com as mãos. Olham de perto aquele castelo, lembrou-se da época que era criança, e mesmo sem gostar de ir à praia, algo que continuava na vida adulta, era obrigado a ir. Quando isso acontecia, a única coisa que o animava era o fato de poder construir seu castelo. Construir o castelo era uma tarefa, que necessitava de cuidado e atenção, pois todos os castelos fazem de conta que são fortes, mas na verdade, necessitam de cuidado. Quanto mais tempo passasse com o castelo, mais afeição vai se criando. Construir era tão divertido, que era capaz de deixar de comer, e só lembrando quando sua mãe insistentemente o chamava,chegando ameaçar a bater. Mesmo distante, em quanto almoçava, ficava observando com um olhar até doentio, pois se alguém ousasse tocar, era capaz de para o comer, e ir dizer que o castelo era seu e que fosse atrás de outro. Porém a pior parte só acontecia ao entardecer, pois era à hora de abandonar, mesmo com um olhar banhado, o seu castelinho de areia, talvez essa separação nem fosse tão dolorosa para o castelo como era para ele, pensava, porém era naquele momento que tinha a vontade de nem ter começado a relação, toda via, como não se podia remediar, tentava de varias formas se assegurar de que o castelo ficaria protegido até seu retorno, por isso, fazia muralhas e mais muralhas de arei, colocando pedrinhas e búzios para ajudar na proteção. Dessa forma ia se despedindo do castelo. Triste, ia andando e olhando para traz, pensando se o castelo também iria sentir sua falta, e em um pacto silencioso prometia voltar o mais rápido possível para visitá-lo, e mesmo sem gostar da praia, iria insistir diariamente para ser levado à praia. Depois de um leve mergulho nas lembranças, tornou ao tempo atual, quando uma criança, ao longe, enquanto corria, ia falando aos berros “Ei moço, esse castelinho de arreia é meu, foi eu que fiz ele ontem".

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Palavras não vêm facilmente

Não conseguia mais fingir a mascara de fortaleza inabalável, que normalmente ostentava na frente de todos, para poder ter seu ar de arrogância e superioridade costumeiro. Seu corpo já não funcionava como em outrora, pois estava quase impossível dizer onde cada órgão se localizava e tinha uma certeza, quase que fiel, que todos eles haviam se fundido, tendo em vista sua perda de consistência do mal estar. Nunca tinha lido o Mágico de OZ, porém certa vez haviam lhe contado a historia do homem de lata. Como aquele ser podia ter sido tão estúpido, ao ponto de pedir para o mago um coração. Tudo bem que o mago não lhe deu um, pois ele já o tinha, porém a tomada de consciência seria o problema futuro, e com certeza, em um prazo de seis meses ele iria se arrepender, mas já seria tarde de mais, e a situação já estaria irremediável. Coração, órgão humano historicamente responsabilizado pelas tormentas emocionais, mas que em sua opinião era apenas uma espécie de sindicalista, um fogueteiro grevista, que fazia com que todos os outros órgãos se revoltassem e se fundissem para produzir o mal estar. Mas no ponto em que se encontrava, não adiantava encontrar culpados. As horas passavam e o sentimento de incomodo só aumentava, tinham combinado de se encontrar as vinte horas, e já contabilizava um atraso de quinze minutos. Quinze minutos de ensaio, para quem tinha passado dois dias, não representava nem a preparação para o epílogo. No ensaio, assim como em uma seção de psicodrama, tinha conseguido falar tudo sem pestanejar nem mudar as palavras para sinónimos eufêmicos. O atraso já se contabilizava em vinte minutos, tempo inadmissível, mesmo que estivessem em período chuvoso. Será que havia se arrependido? Iria esperar fechar a meia hora de atraso, para poder ir embora. Ao longe, mesmo sem óculos, pode notar, não pela silhueta, mas pela maneira como andava, que a pessoa tão esperada enfim chegara. À distância em que se encontravam ainda lhe proporcionaria mais alguns minutos de decisão combustiva. Na hora da escolha tudo se tornava mais confuso e perturbador, e todas as certezas se diluíam em pensamentos ondulados que colocavam em prova a lógica tão certa. A Lei da relatividade estava contra seus pensamentos, e em algumas passos, os dois olhares iriam se cruzar. Nunca tinha sido seu forte se arrepender de escolhas feitas com muita reflexão, mas se a certeza ainda não era forte o suficiente, para se consolidar na presença do outro, admitir e aceitar a queda de sua arrogância era o melhor a ser feito. Antes que os passos que permitissem a decisão fossem recolhidos a zero, virou-se bruscamente e foi o mais rápido possível, sem olhar para traz, em direção a multidão, pois, assim, iria se diluir e ser apenas mais um. Tudo foi tão rápido que só quando realizou todas as ações, foi que o cérebro, agora um pouco mais calmo e duas vezes mais confuso, concebeu o que acabara de ordenar para o resto do corpo. O mal estar tinha se acalmado, por pouco tempo, e sabia que quando toda aquela adrenalina fosse metabolizada pelo corpo, ele iria voltar. Tinhas as desculpas necessárias, e as mentiras programadas para se defender de sua ausência do encontro, e isso lhe proporcionava um conforto mínimo, para mais um dia de pensamento.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Fim de Sísifo

Às vezes, quando as palavras faltavam, o silêncio podia ser usado como desculpa. Porém nem sempre silenciar era a melhor forma, pois quando ficava em silêncio, sua voz ecoava dentro de sua cabeça perturbando suas vontades e sonhos. Aprendera que devia falar o que pensava, e o fato de se machucar era apenas uma questão de ponto de vista, pois sempre teria uma pequena ferida a ser curada. Uma ferida, que mesmo sem ser percebida insistiria em doer, incomodar sem resolver cicatrizar. Quando se encontraram, seus pensamentos fugiram imediatamente de sua cabeça, como balões de gás hélio que sobem ao céu, no imediato momento que são libertados das mão de uma criança. O silêncio novamente era o rei da ocasião, e dentro do castelo do rei se abrigavam vários seres que podiam a qualquer momento serem expulso, tendo em vista que o espaço dentro das muralhas de dentes se tornava cada vez menos. De alguma forma os pensamentos voltavam lentamente a serem respirados, mas o silêncio, ainda não havia sido quebrado. Os olhares, as mãos, os corpos, as bocas, os toques, os silêncios. Os lábios cerravam, porque eram os únicos que tentavam parar o impulso, sabiam que não seriam fortes o suficiente, porém o pouco que tempo que pudessem impedir já serviam ao menos como uma esperança prostituída. Já serrados e a poucos segundos de abrirem, cansaram e cederam. O ar decidido que sai do pulmão, passava pelas traquéias, encontrava com as cordas vocais e por fim formavam os fonemas na boca. Responsável pela quebra total silêncio? Entretanto sua força não fora suficiente para ser considerada um grito de libertação. Os olhos perceberam que nada havia acontecido, por isso, todo o corpo se reorganizou para refazer o esforço semelhante ao trabalho de Sísifo. As sílabas subiam pela sua garganta como pedras, mas ao chegarem a boca fora expulsas e dessa vez puderam ser ouvidas em bom som. Eu ess-stuo a-paixo-nado p-o-or voc-ceeê.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Você me ouve?

Gosto de borboletas. Acho que é a melhor forma de me definir. Pensei em me denominar de "O colecionador de borboletas", porém esse termo não é apropriado para mim. Às vezes, passo muito tempo olham para elas, me sinto perdido,acho que as cores de suas assas servem exatamente para isso. Não sei como ,mesmo cansado, ainda gosto de passar as tarde olhando as borboletas voarem pelo meu jardim. Existem certos tipos de rosas que fazem com que elas pousem com maior freqüência, e são exatamente essas que cultivo no jardim. Já achei, várias vezes,que havia encontrado a borboleta mais bonita da minha vida, porém esta não valorizava muito a minha atenção, e dessa forma me deixava sozinho no jardins . Com freqüência, perco-me procurando as borboletas que mais me agradem , porém, acho que quanto menos procuro mais borboletas bonitas me aparacem, talvez sejam elas que me escolham. Atualmente, encontrei uma que a pouco ainda era lagarta. Ela, mesmo que ainda não queira ficar muito tempo em minha companhia, me permitindo observa-lá. Os poucos minutos que a seguro em minhas mão, já são bastante importantes. Ainda não sei como fazer para poder prende-lá, e talvez nem seja a melhor forma de fazer com que ela continue no meu jardim, pois, as vezes, a liberdade de ir e vim é mais forte que uma prisão. Ela talvez não saiba,mas suas asas, mesmo que novas, prenderam a minha atenção. Sei que posso perde-lá a qualquer momento, mas o pouco tempo que pude apreciar suas cores e asas já me fizeram pensar em uma vida de cores que antes não pude visitar. É no meu jardim que a espero todos os dias dos últimos tempo, e nos dias que ela resolve não aparecer, finjo que esse dia não existiu, e no dia seguinte saio a sua procura.