quarta-feira, 6 de abril de 2011

Deux ou trois

Não adiantava fechar os olhos e fingir que o sono iria chegar nos próximos dois minutos, ou no máximo três, como costumeiramente ocorria. Desde que se entendia por gente, o sono era super pesado e rapidamente vinha, porém no tempo presente, o costumeiro seria descartado. Olhava para cima, para um lado, para o outro, virava de ponta cabeça, de cabeça à ponta. Travesseiro no meio das pernas, travesseiro na cabeça, dois travesseiros, travesseiros no chão. Lençol na cabeça, lençol nos olhos, calor, frio, chão. O incomodo interior, não se limitava a ficar só no interior, mas se propagava. Será que no amanhã, quando a noite já fosse parte do ontem, e o futuro já estivesse, ao vivo e a cores, iria se sentir melhor? Às vezes, pensava que havia feito o melhor, e durante dois ou três minutos fechava os olhos, tendo a certeza que iria conseguir cai no sono, porém bastava uma leve brisa de duvida, e pronto, o furacão estava instaurado, e seria necessário mais vinte ou trinta minutos, para novamente se enganar e, dessa forma, conseguir mais um tempo de certeza. Pegou o telefone, olhou o horário. Já passava dois minutos das três da manha. Não adiantava nem ligar, pois o horário já era muito avançado. E mesmo assim o que iria falar? Tudo havia ficado combina. Não havia mais espaços para duvidas, nem desfeitos. Quem sabe em outro tempo, em um tempo em que a delicadeza já tivesse se instaurado novamente. Mas no tempo presente, o melhor era recolher todo o sentimento.

Odiava leite quente, mas como as pessoas falavam que era bom para insônia, resolveu fazer uma xícara, pois sabia que o único problema que poderia resolver naquela noite era a insônia. Foi até a cozinha, pegou o leite na geladeira e colocou para ferver. Como uma forma de esvaziamento do pensar, ficou olhando atentamente o leite. O branco. Depois de uns dois ou três minutos, o leite começou a borbulhar. Pegou a xícara e colocou o leite ainda fervendo dentro. Voltando ao quarto sentou-se na cama. O leite já estava morno, talvez fosse nessa temperatura que ele ajudasse o sono a chegar mais rápido. Bebeu, quase queimando a língua, mas bebeu. Deitou-se. Olhava para cima, para um lado, para o outro, virava de ponta cabeça, de cabeça a ponta. Travesseiro no meio das pernas, travesseiro na cabeça, dois travesseiros, travesseiros no chão. Lençol na cabeça, lençol nos olhos, muito calor, pouco frio, chão. Dois ou três minutos depois, levanta-se. Sabia que banho morno ajudava a dormir. Foi ao banheiro, despiu-se lentamente, sentou no aparelho por uns dois ou três minutos, entrou no boxe e tomou um longo banho de dose ou treze minutos. Preferiu não secar o corpo, vestiu-se ainda molhado e voltou ao quarto. O mal estar podia não ter passado mais o calor sim. Novamente deitou-se. Olhava para baixo, para cima, para o outro, para um lado, virava de cabeça a ponta, virava de ponta cabeça. Travesseiro na cabeça, travesseiro no meio das pernas, dois travesseiros, travesseiros no chão. Lençol na cabeça, lençol nos olhos, pouco calor, muito frio, chão. Lembrou-se que uma vez, depois de ter viajado durante varias horas de carro, havia tomado Dramin, um remédio que normalmente resolvei o problema de enjou, porém nele dava um sono enorme. Foi até cozinha pegou a caixa de remédio e tomou uns quatro ou seis Dramins. Voltou ao quarto e ficou deitado, como se estivesse a beira d’água esperando o riacho parar de correr. Dois três. Parou.