sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Pedaços de um presente

Hoje, depois de muito se sabotar, ele resolveu ser mais fraco que a tentação. Passou vários minutos  apenas olhando para o guarda-roupa, pois queria ter a certeza de que não conseguiria ser mais forte que sua vontade. Levantou-se lentamente, caminhou, colocou levemente os dedos na porta do guarda roupa, e o abriu. Olhou para dentro, e em poucos segundos encontrou a caixa amarela, que há quase uma semana guardava. Seus dedos cuidadosamente a pegou e juntamente com um suave movimentam a transportou para perto do peito. Voltou a sentar-se na cama. Olhou firmemente para a caixa amarela, que ainda esta lacrada. A vontade de tirar o lacre era tão grande, que antes que pudesse perceber já havia jogado-o no chão. Havia adorado receber aquele presente, porém o fato de saber que era um presente efêmero e que em mais ou menos dias ele iria passar, lhe consumia. Após a retirada do lacre, a pressa para abrir a caixa ficava cada vez maior. Antes de abrir, prometeu a se mesmo que não iria retirar nenhum dos objetos que dentro dela estivesse, era apenas um ato de observação. Promessa que não durou mais do que cinco minutos, pois quando desesperadamente abriu a caixa, logo viu todos aqueles bolinhos de alfajos enfileirados. Parecia que o papel dourado que recobria cada um deles, implorava piedosamente para ser descascado e jogado ao lixo, pois ele não era digno de guarda por mais tempo os alfajos. Como entendera a vontade dos papeis laminados, rapidamente pegou um dos alfajos em sua mão, escolhera o de chocolate branco. Ao desembrulhar pode perceber o motivo pelo qual evitara tanto abrir a caixa, pois o simples fato de ver o alfajor, já lhe deixava consciente que o descontrole iria chegar como dominador da cena. A primeira mordida já anunciava a chegada da vontade da segunda, que por sua vez trazia o desejo da terceira, seguida da loucura pela quarta e mais uma e mais outra. E, o fim. Ao terminar de comer, fechou rapidamente a caixa, antes que os olhos se tornassem cúmplices do desejo. Coisa que foi inevitável, pois um pequeno pedaço do papel laminado, que insistiu em refletir a luz, já serviu de anunciação para o próximo alfajor que iria ser comido. Este seria o último que iria comer naquele dia, e mesmo que não fosse, iria comê-lo come sendo. Lentamente degustava-o, e ao final de alguns momentos de satisfação, fechou rapidamente a caixa e a colocou atrás de todos os seus livros, pois só assim conseguiria resistir. Como os alfajos não iriam durar para sempre, resolvera guardar os papeis que os cobriam como forma de lembrança. O gosto do alfajor ainda estava em sua boca. Era um sabor tão peculiar e delicado, que só perdia para o sabor do beijo da pessoa que o havia lhe dado de presente.