quinta-feira, 28 de março de 2013

Nos alugamos até amanhã


Eram por volta das duas da manhã, os dois tinham resolvido sair de casa para andar um pouco. Não juntos, claro, pois nesse momento inicial da historia eles ainda não se conhecem.  As ruas que escolheram para passear não eram as melhores. Ruas escuras, mal iluminadas e com muitos locais de esbornia. Não que sejamos contra a esbornia, mas locais, assim, não parecem propícios para os acontecimentos que vão se encadear. Os dois, ao verem-se de longe, pensaram não serem da mesma cidade e, entre uma risada e outra, foram descobrindo serem quase vizinhos. Talvez fosse tenso, principalmente para um deles, saber que eram tão próximos, pois, assim, seu segredo, ou melhor, seu instinto podia ser revelado. Em quanto andavam pelas ruas de esbornia, conversavam e riam tão distraidamente que aos poucos e, talvez, sem perceber já não tinham mais o medo inicial e pequenas porções de confidencias foram trocadas. O engraçado era que eles tinham quase a mesma idade, os signos eram bem diferentes, mas segundo o horóscopo havia grande possibilidade de combinação, e juntos riam tanto que o sorriso certamente seria o que mais iria marca-los. Entre conversas bobas e confissões intimas, junto com um desejo mutuo, as horas foram passando e o dia estava quase vindo à tona. Com a chegada do dia já se anunciando entre risadas tímidas, pensamentos altos e risadas bobas tinham que se despedir. O estranho é que não parecia mais que tinham se conhecido em um local onde o mais provável de acontecer era o sexo rápido e sem compromisso. Esse fato só ainda podia ser lembrado, quando um dos dois puxava na memoria a hora que tinha visto o outro de costa e reparou que tinha uma linda bunda. Não que esse fato não fosse mais tão importante, mas agora ele era apenas mais uma memoria, que era importante, mas tão quando as lembranças dos sorrisos bobos e da boca vermelha. Com o passar de horas de fala, minutos de silêncios e segundos de trocas de olhares tinham que se despedir. Possivelmente, como uma forma de marcarem o compromisso de se reverem, pensaram em trocar uma musica. O jogo iria funcionar da seguinte forma: cada um iria dizer uma musica para o outro ouvir. Assim, por meio da musica, iriam ter uma forma de lembrar um do outro, e certamente, a vontade de estar perto iria ser atiçada. Não que precisassem de uma musica para atiçar essa vontade, mas seria muito mais uma maneira de ter perto, o que estava longe. Trocaram as musicas, olharam-se por mais alguns minutos, riram por mais alguns segundos e também silenciaram, deixando apenas o olhar no ár. Já era tarde da noite, ou melhor, cedo do dia, tinham que se despedir, pensando bem, tinham que dar um até breve, um nos vemos amanha, um não quero perder o contato, um não suma... Já estavam começando a se distanciar e seguir seus devidos caminhos, de volta para casa, quando um deles virou-se e entre mais uma risada disse: “Xero”. O outro também rindo, repetiu a palavra, pois havia achado uma forma carinhosa de se despedirem. Ao virarem-se de costas, colocaram o fone no ouvido e como em uma cena aonde a câmera vai subindo e o foco vai saindo dos personagens principais da historia e expandindo para mostrar o resto da cidade, deram um até breve mentalmente e guardaram na memória os sorrisos bobos, os olhares, a musica , o silencio, os segredos e o “xero”.