domingo, 4 de outubro de 2015

Nesse mundo algo há de valer a pena

Eles se encontravam sempre ali no meio da rua. Talvez nem lembrassem bem como tudo começo, mas o tempo guardava tudo na memória. Era um dia qualquer, de uma semana qualquer, de um ano qualquer. Depois de dois cigarros quaisquer, dois estranhos quaisquer se encontram na rua. Se olham, esboçam um sorriso de lado e pronto, a partir daquele dia em diante todos os quaisquer se tornaram algo. Não precisavam marcar, parecia que o próprio tempo se organizava de juntar os dois. Daí em diante, já não importava mais se era ou não algo imoral ou marginal o que importava era acreditar que tudo era possível. Eram encontros de sexo banal, algo meramente mente casual, totalmente sem compromissos e com a certeza de ser ilícito. Falavam pouco, se olhavam muito, se desejavam mais ainda. Talvez nessas horas de carriças voltassem a serem bichos, ou melhor, talvez descobrissem a maior potência de ser humano, pois tudo pulsava. O pau, a boca, os braços, as pernas, a cabeça, os lábios, os pelos era como se cada parte do todo pudesse fazer sentido enquanto sensação. O sexo mais banal virava uma poesia escrita por corpos errantes. Nada ali era para entender, os entendedores não iriam conseguir, pois passava qualquer âmbito que a lógica pudesse capturar. E esse foi exatamente o erro.
Sem nenhuma necessidade, sem precisar, sem saber aceitar a instabilidade, resolveram entender. Ninguém deve tentar entender um caso imoral. Começaram a falar muito, a olhar pouco e a desejar menos ainda. O Logos logo começou a ser usado, os sentidos foram gradativamente dispensados e os corpos foram ficando ao meio do caminho. Já inspiravam mais que espiravam, a respiração estava cada vez menos ofegante. Os azuis dos dias foram se calando, e acreditar já era quase um exercício fadado. Era novamente um dia qualquer, de um mês qualquer, de um ano qualquer. Começaram a fumar dois cigarros quaisquer, se entreolharam com olhos de pecados esquecidos e saíram andando. Sabiam que entre o silencio havia muito. O sexo mais banal tinha vira uma foda.

As cidades grandes têm dessas coisas, às vezes, o mesmo fluxo que proporciono o encontro, também proporciona o desencontro. Depois de um tempo qualquer, cheio de acontecimentos quaisquer e não encontros, em uma festa na rua paralela a anterior se reencontraram. Haviam usado algumas coisas quaisquer e já não estava mais fazendo um bom uso da sanidade. Respiram mágoas no entreolhar. Ao fundo, começou a tocar uma música brega, de um desses cantores que está na moda, foi impossível no começarem a rir. Entre gargalhadas foram se aproximando, foram acreditando. Quando as bocas já estavam bem próximas, os lábios e as línguas resolveram a questão de um modo silencioso e com muita saliva. Os pegados esquecidos foram puxados para dentro de um banheiro, os fôlegos foram perdidos e a necessidade de gemidos foi maior que de palavras. Os desejos e os pecados forma relembrados, revividos e refeitos. O sexo banal. Ali entre silêncios e gemidos fez sentido. Ao final, não falaram nada. O temor do amanhecer parecia invadir os corpos que depois de abrirem a porta do banheiro apenas se olharam muito e se sentido saciados de desejo. Nenhuma palavra foi usada, apenas se invadiam pelo olhar que lentamente foi ficando cada vez mais distante. Os pecados proibidos foram ali deixados. Era um até breve, talvez.