terça-feira, 23 de março de 2010

Dizem que os humanos vêem coisas

Já tinha certeza que estava sendo seguindo, porém continuou andando, pois preferia fingir que não tinha notado.
Sabia que a pessoa a sua frente já havia notado que estava sendo seguida, porém só descansaria quando falasse o que não conseguia mais calar.
Cansado de fingir que não havia notado que estava sendo seguido virou-se.
Assustou-se com a rápida reação e abruptamente falou a primeira coisa que veio a cabeça.
- Oi... Como você esta. Certamente não erra essa a frase que falaria caso tivesse pensado mais alguns segundos
-Bem e você. Talvez com poucas palavras conseguisse mostrar que não estava com vontade de conversar.
-Bem...
-Pensei que não tivesse vindo não havia lhe visto. Ok já havia trocado palavras de mais.
-Sério. Com certeza erra mentira, mas não tinha como provar ao contrário.
Não tinham mais o que falar e já que a cara já estava à tapa, por que não dar a outra face? Levantou as mãos tremulas que não agüentava mais esconder e levou-as ao rosto a frente, talvez não fosse o toque mais suave que podia realizar, mas era o mais sincero capaz de ser feito, e lentamente foi aproximando os dois rostos ate trocarem, mesmo que sozinho, um leve beijo, talvez aquele tocar de lábios nem merecer-se o nome de beijo, porém como não existi outro nome na língua portuguesa para quando dois lábios se tocam por mais tempo que um selinho, por isso resolveu chamar de beijo.
Será que não tinha notado que não queria trocar mais nenhuma palavra, talvez sim já que calara. Podia ver nos olhos uma hesitação, mas que passou rapidamente, pois logo as mãos nervosas estavam fazendo o percurso do rosto, aceitou-as mesmo que o toque não tivesse sido muito delicado, deixou-as guiar o rosto mais a frente, de perto da para notar como aqueles olhos tinham medo da ação que o cerebro planejava mesmo que inconscientemente fazer, o plano não demorou muito a ser sentido pela boca. Fora tão rápido que nem teve tempo para decodificar o beijo.
Saiu sem nem olhar para traz, continuou andando, porém com uma vontade boba de que as coisas que acontecem em filmes acontecessem exatamente naquele momento, mas mesmo assim não olhou para traz, pois havia deixado o recado que teimava em querer ser expresso.
Ficou parado tentando imaginar, ou fingir que não conseguia entender, o que aquele beijo poria representar, viu as mãos nervosas se distanciarem e por alguns segundos pensou ver hesitação na direção, mas fora engano, pois nunca viu uma determinação tão verdadeira em um corpo.
Saiam cada um com sua visão sobre a mesma ação, nenhum tinha a coragem de perguntar o que o outro pensava, pois a melhor verdade é a mentira que contamos para nos mesmos.

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