segunda-feira, 21 de junho de 2010

Normalidades

Haviam resolvido internar Pedro, não que achassem que ele havia ficado louco, até porque achavam essa palavra muito forte, ou seja, haviam pensado em colocar Pedro em uma clínica de tratamento psicológico, pois o mesmo precisava de um tempo, fora da sociedade, para poder pensar nos atos que havia realizado nos últimos dois meses. Pedro não teve nem chance de falar que estava bem, até porque não conversava com ninguém umas duas semanas. Seu olhar também havia mudado, era como se comunicasse através dos mesmos, pois as palavras já não tinham a capacidade de dimensionar os pensamentos. Não era comum um homem de 26 anos, formado em dois cursos superiores na melhor faculdade do estado, além de um mestrado e um doutorado em universidades do exterior, estar no estado físico e psicológico que Pedro se encontrava. O medico perguntou se nenhum dos familiares sabia responder quando Pedro havia mudado, ou como aconteceu. Era estranho, mas ninguém sabia dizer, pois foi como se uma noite ele tivesse dormido bem e acordasse louco, ou melhor, com problemas psicológicos, pois a família não gostava da palavra louco, era muito forte e não achavam necessário para o caso de Pedro. O medico ainda tentou manter uma conversa, porém Pedro não respondia a nenhuma pergunta. “Qual seu nome?...” “Sua idade?...” “Sabe dizer em qual ano estamos?...” “Qual o nome do seu cachorro?...”. “Não adianta doutor, já tentamos conversar antes, porém ele vem em um silencio sufocado a mais de duas semanas” essa frase foi falada como que em couro por todos os familiares. O diagnóstico havia sido dado, depressão profunda, características básicas, falta de animo, chegando a não realizar as atividades cotidianas, faltas de apetite, além de um silencio profundo. Solução, internação imediata, pois o quadro podia piorar, e o paciente poderia cometer suicídio. Fichas preenchidas. Pronto, os enfermeiros podiam levar o novo paciente para o quarto vinte e dois, onde iria começar a tomar seus medicamentos, que inicialmente seriam ministrados através de injeções intravenosas, depois, caso o quadro do paciente melhorasse, poderia tomá-los via oral. Quarto vinte e dois, completamente branco, cama, porta e paredes revertidas com espumas, para caso o paciente quisesse se machucar, batendo-se nas paredes. Cama também revertida por espumas, com a mesma justificativa, luz e janelas protegidas com grades, tudo com a maior segurança e conforto, para a recuperação do paciente. Todos os dias o paciente tinha direito a sair para o jardim do hospital, ou melhor, da clínica de rehabilitação social, porém sempre bem dopado e com um enfermeiro acompanhando. Toda semana os familiares podiam visitá-lo, duas vezes, o que aconteceu nos primeiros quinze dias, logo depois começaram a ir uma vez por mês, logo depois, só nas datas comemorativas, e atualmente fazia dois meses que ninguém o visitava. O homem do quarto vinte e dois havia acordado meio que indisposto naquele dia, não quis sair para o jardim, também não comeu todo o almoço, porém algo de mais incomum havia acontecido. O homem havia desenhado em uma folha em branco algo que ninguém conseguia ler, talvez por ser em outra língua, que os enfermeiros não conheciam ou quem sabe por não haver nenhum sentido lógico naquela junção de letras. Após muita insistência dos psiquiatras do hospital, o homem do quarto vinte e dois resolveu falar, coisa que não fazia desde que havia chegado ao hospital. “Homem em sociedade pode ter um parâmetro para se considerar normal, o preso não, pois para ele normalidade é ser o que se é”, teve de repetir duas vezes, pois como fazia um tempo que não falava as cordas vocais parecia não saberem mais vibrar. Após ouvirem os médicos não conseguiram ver sentido em seu discurso, por esse motivo mandaram aumentar a dosagem dos medicamentos, ante-alucinógenos, pois o ser do quarto vinte e dois não sabia mesmo o que estava sendo real ou imaginação.

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