sábado, 5 de março de 2011

Outro dia

Odiava ir à praia, mas como morava em uma cidade praiana, era quase impossível não ir, ao menos uma vez por ano, nem que fosse por obrigação. Todo aquele calor, a areia que era quente e a água que era fria, parecia produzido atenciosamente para lhe perturbar. Dessa fez, o mundo se processou de uma forma diferente, pois ninguém havia lhe convidado para ir à praia, mas por conta própria pegou o carro e foi. Não tinham ninguém lhe esperando, mesmo assim aceitou o impulso. De início, tudo parecia o mesmo, o sol lá em cima, a areia, mesmo ainda sendo quinze para as oito, já estava muito quente e o mar parecia estar de ressaca. Sentou-se na barraca, pediu uma cerveja e ali sentado ficou. Odiava o ritual, que normalmente a maioria das pessoas faziam ao ir à praia, não entendia qual era a graça de ficar virando de um lado para o outro, se lambuzando com um bronzeado, como se fosse uma galinha de maquina da padaria. Sentado ao longe viu, próximo ou mar, um castelo de areia, que devia ter sido feito há alguns dias, pois as estruturas da parede já estavam cedendo. Levantou-se e foi olhar mais de perto. Era engraçado, como as crianças sempre ao chegar a praia, vão logo sentando se na areia, e começando a fazer seus castelinhos, seja com o auxilio de um balde, ou simplesmente com as mãos. Olham de perto aquele castelo, lembrou-se da época que era criança, e mesmo sem gostar de ir à praia, algo que continuava na vida adulta, era obrigado a ir. Quando isso acontecia, a única coisa que o animava era o fato de poder construir seu castelo. Construir o castelo era uma tarefa, que necessitava de cuidado e atenção, pois todos os castelos fazem de conta que são fortes, mas na verdade, necessitam de cuidado. Quanto mais tempo passasse com o castelo, mais afeição vai se criando. Construir era tão divertido, que era capaz de deixar de comer, e só lembrando quando sua mãe insistentemente o chamava,chegando ameaçar a bater. Mesmo distante, em quanto almoçava, ficava observando com um olhar até doentio, pois se alguém ousasse tocar, era capaz de para o comer, e ir dizer que o castelo era seu e que fosse atrás de outro. Porém a pior parte só acontecia ao entardecer, pois era à hora de abandonar, mesmo com um olhar banhado, o seu castelinho de areia, talvez essa separação nem fosse tão dolorosa para o castelo como era para ele, pensava, porém era naquele momento que tinha a vontade de nem ter começado a relação, toda via, como não se podia remediar, tentava de varias formas se assegurar de que o castelo ficaria protegido até seu retorno, por isso, fazia muralhas e mais muralhas de arei, colocando pedrinhas e búzios para ajudar na proteção. Dessa forma ia se despedindo do castelo. Triste, ia andando e olhando para traz, pensando se o castelo também iria sentir sua falta, e em um pacto silencioso prometia voltar o mais rápido possível para visitá-lo, e mesmo sem gostar da praia, iria insistir diariamente para ser levado à praia. Depois de um leve mergulho nas lembranças, tornou ao tempo atual, quando uma criança, ao longe, enquanto corria, ia falando aos berros “Ei moço, esse castelinho de arreia é meu, foi eu que fiz ele ontem".

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