sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Cães tanatos

 Coveiro 1: Manda este cachorro parar de latir.

Coveiro 2: Para!

Coveiro 1: Ele não está parando. Vamos mande com mais coragem.

Coveiro 2: Para, seu animal estúpido!

(Som de cachorro, chorando)

Coveiro 1: Pronto agora ele já foi em borá.

Coveiro 2: Acho que já está profundo de mais, podemos parar.

Coveiro 1: Falaram que o buraco era para caber duas pessoas. Você sabe a historia?

Coveiro 2: Suicídio. Estamos em agosto, não sei o motivo de haver tantos suicídios. Normalmente o numero aumenta só em meadas de dezembro.

Coveiro 1: Verdade. Só essa semana eu já enterrei dois. Um era um menino de 25 anos que pulou do prédio em que vivia. Os vizinhos comentavam que dava para escutar ele dizendo (imitando) Pareeeee!O outro foi uma senhora de 25. O povo comentou que ela tomou dez comprimidos para dormir. Enfileirou todos, tomou um por um e antes de cair no sono ligou para a amiga e disse: (imitando) Acho que estou com um pouco de sono vou dormir, me ligue só amanha.

Coveiro 2: Nossa. (continua cavando) Acho que agora está bom. (medindo o corpo do outro) São sete palmos. Buraco suficiente para caber dois caixões.

Coveiro 1: E cadê eles que ainda não chegaram? Que horas são?

Coveiro 2: São 4 horas e 45 minutos. Acho que vão chegar só as seis da manha.

Coveiro 1: Então o que nos resta?

Coveiro 2: O que nos resta é esperar.

Coveiro 1: Me entrete um pouco em quanto esperamos.

Coveiro 2: Ele ligou para ela, no dia do aniversario de casamento deles atirou.

Coveiro 1: Ele quem? Ela quem? Atirou?

Coveiro 2: Ele, (aponta para o buraco, e lembra que ainda não chegaram). Ele, (aponta para porta, e ver que ainda não chegou) Ele, que esta por vim. O suicida.

Coveiro 1: Ok, prossiga.

Coveiro 2: Era o aniversario de casamento deles, os dois que estão por vim (explicando). Ele disse para ela chegar em casa só lá pelas oito da noite, pois ele iria fazer uma surpresa. Quando deu sete e pouco, ligou novamente, disse que ela já podia vim, pois em dois minutos a surpresa estava pronta. E ai atirou.

Coveiro 1: Ai, quando ela chegou, olhou para ele deitado no chão, pegou a arma e falou: (imitando) O meu amor, por qual motivo fez isso, e nem uma bala me deixastes. Engano meu, ainda há uma bala. Sim irei ao seu encontro, e juntos ficaremos.

(os dois dão risadas)

 Coveiro 2: Não, foi um pouco menos Romeu e Julieta. Ela o viu deitado, com o sangue e miolos todos espalhados e tomou um litro de vinho, sem lembrar que já havia tomado seus costumeiros remédios antidepressivos. No casso dela, nem pode dizer que foi suicídio.

Coveiro 1: Mas, e vão enterra os dois juntos?

Coveiro 2: A família pediu.

Coveiro 1: Merda.

Coveiro 2: O que foi?

Coveiro 1: Lá vem a merda daquele cachorro de novo.

Coveiro 2: E o que fazemos?

Coveiro 1: Não sei, mas ele já vem latindo, e isso me enche o saco.

Coveiro 2: Deixa ele latir, dizem que os cães vem coisas, e seus latidos espantam almas que estão vagando.

Coveiro 1: Mas, não quero ele no meu pé.

Coveiro 2: Então vamos entrar nesse buraco.

Coveiro 1: Mas é uma cova, eu mesmo não entro.

Coveiro 2: Só é cova, quando tem algum caixão dentro, antes disso é só um buraco.

(Ditam-se os dois)

Coveiro 1: Ele ainda não parou de latir, que merda isso ta me enchendo o saco!

Coveiro 2: Mas ele vai já para.

Couveiro1: Pareeeeee!

(Silencio, por um tempo)

Coveiro 2: Acho que estou um pouco com sono vou dormir.

(Som de latido se distanciando)

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