domingo, 19 de abril de 2009

Dias quentes

O dia estava quente, disse a jovem que entrou pela porta. O que era muito comum em tempos de chuva. Estavam cansados e queriam parar aquele ato indecente. O sentimento ilícito estava corroendo-lhes. Como era possível viver a tanto tempo dentro de uma casa, sem querer saber as novidades do mundo? Sentiam que estavam sendo observados e julgados. A única solução encontrada para estas pobres vidas seria a morte, porém tinham medo do inferno. Não conseguiam compreender porque tinham medo do inferno, pois nada poderia ser mais mórbido e sujo que a própria existência. Combinaram que, no dia 27 de abril, iriam cometer um suicídio coletivo. O dia havia chegado e lá estavam eles sentados, olhando um para cara do outro. O dia estava quente, o que era muito comum em tempos de chuva.
-Acho que dias quentes não são bons para morrer. Afirma o mais velho. Poderíamos esperar pela primavera, o que acham?
-Hei, só dando um toque, no Brasil, principalmente no Ceará, não temos primavera. Você já está desistindo? Perguntou a mais nova.
-Tive uma boa idéia. Começaremos por ordem de idade, dos mais velhos para os mais novos. Disse o mais novo.
-Morrer de fome, ao meu ver, é bem a cara de São Francisco, quem sabe assim teremos a remissão dos nossos pecados. Disse uma voz no meio da briga.
Ouviram um tiro, todos viraram com uma expressão de medo.
-O próximo tiro será em quem falar mais uma bobagem. Disse o mais velho.
Notando que ninguém tomaria a iniciativa para o início dos suicídios, resolveu ser o primeiro. Novamente, se escutou um barulho de tiro, um corpo estava no chão.
-Gente, sabe que eu acabei de perder a vontade de morrer. Falou o mais novo.
A dona da voz na briga veio por trás e falou, bem baixinho, no ouvido do mais novo: os covardes têm que morrer envenenados. Aplicou uma injeção de veneno na artéria, em pouco tempo, mais um corpo estava no chão.
Como as duas que sobraram demonstravam honra, decidiram que a voz na briga iria matar a mais nova, pois a mesma não conseguiria cometer o suicídio. Depois a voz na briga iriam cometer o suicídio. Ouviu-se um tiro. Agora, a Voz na Briga se sentia muito sozinha, no meio de vários cadáveres, nervosa, resolve por fim a tragédia grega. Mais um copo estava no chão.
O silencio da morte não parecia ser perturbador, sentia relaxar cada músculo e podia, finalmente, dormir em paz. Estava sendo uma boa solução, porém, algo mais forte impedia o descanso, que teoricamente seria eterno. Uma luz estava a incomodar seus olhos. Seguiu a luz, como se ela fosse a resposta para toda as perguntas. Chegou a uma porta que lhe parecia familiar, curiosamente resolveu abri-la.
-Nossa o dia esta quente. Disse a Voz na Briga.

Um comentário:

Personal Viagens Fortaleza - Ceará disse...

Nossa!Que coisa mais depressiva =P
Mas muito bem escrito!
Parabéns!
Cada um melhor que o outro!Cada dia escrevendo melhor =)
Saudaaaades!