sábado, 18 de dezembro de 2010

Agora também o cisne morre

O acordar começa com um: estou aqui e agora? O Acordar realmente me doe, aos poucos vou tomando conta de que realmente estou aqui. Nunca fui muito feliz ao acordar, não sou daqueles que pulam da cama, e dizem bom dia para o novo renascer do sol. Diferente dele, pois todos os dias acordava já com uma felicidade, às vezes chegando a me dar vontade de lhe meter uma bofetada na cara, pois só os tolos não percebem o verdadeiro sentido do acordar. Esse ato tão cotidiano devia nos lembrar quase que obrigatoriamente de que o hoje é um dia depois do ontem, um ano depois do ano passado e que mais cedo ou mais tarde ela vem nos visitar. Normalmente levo muito tempo para me tornar eu, tempo para me adaptar ao que esperam que eu seja. Sei muito bem como devo me portar, logo que me levanto, vou ao banheiro e diariamente passo na minha face três lâminas bastante afiadas, depois uso de uns fios presos para limpar meus dentes, me banho, uso o sanitário durante umas duas ou três paginas e vou levemente montando esse papel que devo desempenhar. Ele quando acordava, não precisa mais do que de cinco minutos, já estava pronto, não sei como ele tinha tanta certeza de se, mesmo com a pouca idade. O odeio sair de casa, principalmente depois que ela passou e o levou. Só saio de casa por basicamente três motivos, o primeiro deles são as compras, até porque ainda me alimento como todos os outros, o segundo o trabalho, esse só é motivo por haver necessidade das comprar, o último, é apenas uma hipótese, pois ainda não foi necessário. Certa vez, ele me disse que éramos invisíveis, e que toda minoria era invisível. Naquele momento concordei, e até hoje concordo em partes, mas quando me pego pensando o que é maiorias, me vejo em um conjunto de minorias articuladas, que tentam encontrar um ponto de congruência, mesmo que hipotética e utópica, e dessa forma se sentirem mais confortáveis enquanto humanos. Mas o pensar não me faz ter mais estímulos para querer me levantar. Ele era livre de pensar, parecia que a boca era grudada no cérebro, pois nada que passava por ela tinha um mínimo de logicismos anterior, e talvez por isso acordasse de bom humor. Atualmente estou ficando cada vez menos disposto a montar o papel, por isso costumo desmarcar eventos agendados há meses, com desculpas cada vez mais mentirosas, chegando ao ponto de em algumas ocasiões falar a mesmas coisas duas vezes. Não é só o acordar que estar me incomodando, o dormir também começa a me deixar chateado, pois começo a desconfiar de sua aliança de sangue com o acordar e dessa forma começo a ter amizade apenas com as tardes. Espero que essas não me decepcionem. Enquanto ela não chega para me conduzir a ele, vou acordando e toda vez começo o dia me perguntado: estou aqui e agora?

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