sexta-feira, 17 de junho de 2011

Volta ao preto

Oi vizinha, senta ai. To precisando tanto conversar com alguém. As mesmas coisas de sempre. Posso lhe contar? Hoje ele tinha prometido me visitar. Acordei logo pela manhã, fui ao mercantil. Sabe ontem à noite, como eu já sabia que ele iria chegar hoje, olhei umas revistas de receitas, para procurar uma receita nova, que pudesse fazer para nós dois. Resolvi fazer um frango ao molho de laranja com cenoura e gengibre. Nem gosto muito dessas comidas diferentes, mas como sei que ele é todo metido a chique, iria fazer para agradá-lo. Compre o peito de frango maior que encontrei no mercantil, escolhi todos os ingredientes sem a menor pressa, conta até que não deu muito caro. Não havia decorado, muito bem, como fazer a receita, mas fui experimentando. O cheiro estava tão delicioso, modéstia a aparte, acho que a minha receita ficou melhor que a original. Com esse tipo de comida sofisticada, acho melhor fazer apenas um arroz branco normal, para acompanhar. Minhas mãos estavam fedendo a alho, e enquanto o arroz cozinhava, fui tomar um banho. Dava para sentir, do banheiro, o cheiro da comida. Ele iria gostar tanto. Sabe, às vezes, quando ele ta comendo minhas comidas, talvez ele nem perceba, mas fico só olhando de canto de olho para a cara dele, só para ver suas excreções de satisfação, me sinto tão bem quando sei que fiz um almoço todo especial para nós e ele gostou. Terminado o banho, passei um hidratante, e fui retirar as panelas do fogão. Ele diz que não gosta de comida muito quente, por isso, deixo tudo preparado uns vinte minutos antes dele chegar para poder ficar mais morna. Deitei no sofá que fica perto da janela da sala, fiquei só espiando para ver o momento exato que ele chegasse e eu correria para abrir o portão. Já eram doze e meia, mas ainda estava calma, pois é normal, ônibus podia ter atrasado ou o engarrafamento podia estar muito grande. Dez para uma e ele não havia chegado ainda, comecei a ficar sem paciência. Todo barulho que ouvia, lá fora, corria para o portão, porém era o cara que passava na rua, ou então uma mulher querendo vender biscoito "Não senhora eu não quero". Já era quase uma e meia e ele ainda não havia chegado. Não, essa não é a primeira vez que ele fura comigo, eu até já pressentia que isso podia acontecer, mas antes, ao menos, ele me ligava para cancelar, nem que fosse na hora, mas ligava. Dessa vez nem isso. Já eram quinze para as duas, cansada de esperar, fui até a cozinha. A comida já estava mais que fria, não tive a menor vontade de comer. Quando se faz uma comida para dois, ela só tem sabor se for a dois, comer sozinha não vai ter nem sabor. Aquela comida me embrulhava tanto o estomago, resolvi jogar no lixo, sei que tem gente passando fome, mas eles que entendam meu momento. Fiz um ovo com pão só para não ficar sem comer, e fui dormir. Você precisa ir? Não vizinha tudo bem, brigada por me escutar. Não, estou bem, e se não tiver, uma hora fica.

Um comentário:

Isabela1A disse...

Que desfeito , fazer com que a moça espere por vezes uma visita , e ainda assim fazer-la preparar uma comida chique !
rs
Vai ficar bem, um dia ficará (: