Ele fechou a
porta na minha cara. Não, não foi bem assim, preciso começar novamente esse
texto. Ele abriu a porta, olhou para mim, e pediu que eu fosse embora e aí sim
fechou a porta na minha cara. Eu, o que fiz? Toquei a campainha. Ele não abria
a porta, me olhava pelo olho magico (eu imagino) e falava para eu ir embora. Pedia-me
que entendesse e dizia que precisava ficar só.
Por
algum momento, um rápido momento, eu achei que ele ia abrir a porta e me
explicar tudo. Ao invés disso ele apenas começou a chorar e disse que iria me
ligar, caso soubesse o que falar. Eu então, cansei de ser palhaço de circo
falido e resolvi sair. Peguei o primeiro taxi que vi. Nem olhei se tinha
dinheiro, mas peguei.
O
taxista me pergunto para onde iriamos. Apenas respondi: para o mais longe possível
daqui. Acho que ele entendeu. Sai de lá. Pronto, já estávamos distantes o
suficiente. A janela do carro era um refúgio. Olhando para a paisagem, minha
mente não tinha tempo de pensar, ela só tentava entender as imagens que
rapidamente corriam. Assim eu podia descansar. Comecei a chorar. Secava aquelas
lagrimas com tanta força e raiva. Secava, pois eu não queria chorar.
Senhor,
pode parar aqui, nesse ponto do metrô já está ótimo, obrigado e pode ficar com
o troco. Desci, coloquei o fone e continuei a andar, não queria pegar o metrô,
queria apenas andar. A cidade, as pessoas, a música e a porra dos meus
pensamentos. Eu estou cansado, devo parar e tomar uma cerveja, uma garrafa de
vinho ou uma dose de gim. Moço me der os três, um de cada vez a ordem você pode
escolher, foi o que pedi no primeiro bar que vi a minha frente.
A
cerveja estava quente, o vinho doce demais e o gim era muito vagabundo. Quem é
aquele ali? Está olhando para mim? Acho que sim.
-
OI
-OI
-
Você é bem lindo
-
Obrigado
-
Posso sentar aqui?
-
Sim, estou só mesmo.
Ele
sentou à mesa, se apresentou, falou do meu sotaque. Falamos amenidades. Coisas
de sempre. Nome, signo, idade, o que faz da vida, (risadas), (silencio), mora
onde?, e esse sotaque? Nos beijamos.
Sai
daqui, sai da minha cabeça, você mandou eu ir embora, não atrapalha o beijo.
Não eu não vou mais pensar em você. Sim o beijo está sendo ótimo, só estou
pensando em você, pois estou com raiva, mas dá para você sair dos meus pensamentos?
Obrigado. Caralho, você não vai sair ne. Ok, vou dispensar o cara, não era esse
o combinado?
-Desculpa,
preciso ir.
-Mas
já?
-
Sim, estou cansado e já é tarde.
-
Me diz teu número então!
Trocamos
os números. Acho que ele nem vai me ligar, mas tudo bem. Subi a rua, estava
perto de casa. Uma garrafa de vinho (um pouco melhor). Enfim em casa. Sai gato,
não estou com paciência para carinho em gato. Deitei na cama. Abri a garrafa.
Começo a beber. Ele realmente fechou a porta na minha cara hoje? Serio? Que
droga, estou ficando bêbado, não consigo evitar é algo biológico, desculpa.
Será
que estou com sono, ou estou apenas bêbado? A Lana Del Rey cala essa boca. Não,
espera, vou repetir a música mais uma vez. Estou com o celular na mão. Na
verdade, passei o dia com o celular na mão, ele disse que iria me ligar. Estou
esperando. Ele fechou a porta na minha cara e eu ainda não sei o motivo. O
celular na está na mão, a garrafa de vinho está quase seca, a Lana Del Rey está
tocando novamente e eu já estou bastante bêbado. Podia ser mais chique? Acho
que não, mas que se foda é pra ser clique e vai ser.
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