A
nicotina faz mal as pessoas. Certa vez eu li que no cigarro existe mais de 1000
substancias cancerígenas e que a nicotina faz mal as pessoas. Tudo bem, talvez
só três cigarros não façam tão mal assim. O dia está chovendo e eu estou com três
cigarros, a pé e voltando para casa. Enquanto ando em meio a chuva me dou o
luxo de perceber, sorrateiramente a vida das outras pessoas, pois isto me distrai.
Moça, me empresta o isqueiro por favor.
Ascendi o cigarro e fiquei ali, parado ao lado da moça do isqueiro. Ela estava
ao telefone, parecia falar com alguém que não mora aqui (não tenho certeza
disso, é apenas uma suposição mesmo). Ela dizia que aqui estava chovendo muito
e que por isso ia se atrasar para o trabalho. Acho que a outra pessoa falava
pouco, pois a moça do isqueiro mal respirava entre uma frase e outra e já ia emendando
mais assuntos. Cansei dela. Resolvi andar mais um pouco no caminho de casa.
O
primeiro cigarro já foi, acho que vou tomar um refrigerante antes de ascender o
segundo. Paro em uma dessas lojas de fast-food. O senhor vai querer um copo de
300ml ou 500ml? Na dúvida pedi o maior. Qual refrigerante? Pensem em pedir
Coca-cola, mas então lembrei que certa vez eu li que Coca-cola fazia mal pro estômago, então pedi Fanta-uva. No rotulo da Fanta-uva diz que tem 5% de suco
de uva, deve fazer menos mal. Após o atende me dar o refrigerante, pergunto se
ele tem isqueiro, ele me responde que não fumava, pois, cigarro fazia mal à saúde.
Acho que ele viu que não fiz uma cara boa e indiretamente se desculpou. Não tenho
isqueiro, mas posso lhe dar essa caixa de fósforo. Agradeci e sai da loja
moralmente correta que vende Coca-Cola.
Estava
difícil beber a Fanta, fumar o cigarro e além disso segurar o guarda-chuva. Resolvi guarda o guarda-chuva na bolsa e ir me
molhando mesmo. Eu até não tenho problema em tomar banho de chuva, mas eu
preciso que a chuva me convide para banhar com ela, hoje ela parecia querer
banhar sozinha. Como era uma chuva de garoa, meu cigarro resistiu firme mente,
só a Fanta que ficou um pouco mais aguada, até aí tudo bem. Enquanto espero o
sinal abrir, para poder atravessar a rua, um motoqueiro passa tão perto da
calçada que quase sou atropelado. Até acho que ele nem percebeu, estava muito
ocupado com sua individualidade. Eu percebi, já que quem ia sendo atropelado
era eu, mas como também estou acostumado com as individualidades apenas respirei
fundo e continuei.
Na
minha avistei uma mulher andando com um guarda-chuva amarelo, ela também está
fumando um cigarro. Não sei se foi coisa da minha cabeça, mas quando o meu
olhar e o dela, em uma fração de segundo, se encontrou, tive a sensação de
perceber que estávamos fumando pelo mesmo motivo. Dela eu não pude ouvir nada,
apenas observei sua figura desaparecer na dobra de uma esquina e outras.
Pronto,
estou em casa e lá fora continua a chover. Mexo nos bolsos e encontro meu último
e terceiro cigarro, vou para a janela e ascendo ele com um isqueiro velho que
tenho. Olho que o sol parece já te se posto, não tive tempo de perceber. Acho
que nesse ponto me identifico com a Joe: “Talvez a única diferença entre mim
e outras pessoas é que eu sempre exigi mais do pôr do sol, mais cores
espetaculares quando o sol atinge o horizonte. Talvez este seja o meu único
pecado”.
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