segunda-feira, 13 de setembro de 2010

La musique, voitures, musique

Já havia se decidido, o tempo de repensar já havia passado e a única coisa que mudaria o destino seria uma escolha divina, uma intervenção direta e não essas crendices bobas, que as pessoas costumeiramente fazem. Entrou, acertou o banco, os espelhos e até a própria cara. Sentado, sentia como se tivesse todo o poder do mundo, o poder que outrora não sentia. Olhou cuidadosamente cada detalhe, passou e repassou o plano na cabeça, pois assim firmaria as idéias no inconsciente e mesmo que o consciente fizesse a burrice de desobedecer já estava tudo gravado. Ligou o carro, pisou na embreagem, pisou no acelerador, foi trocando o peso entre os pés e pronto já estava a caminho. A musica, não sabia falar Frances a não ser uma duas ou três palavras, que aprendera com uma musica. “Quelqu'un Ma Dit”, não sabia pronunciar direito, porém o significado era algo como “Alguém me disse”, talvez essa música fosse interessante de ouvir. O acelerado estava a mais de cem por hora, quando o carro chega a tal velocidade é notório como o motorista deixa de ser um guia e passa a ser um homem que transita a linha tênue da vida e da morte, como uma criança que brinca no parque com a presa de curtir o máximo possível do dia. Quanto mais o pé entreva no acelerador, mais a vontade de voar de desintegrar no ar, como um olho de leão se desfaz com o vento. O vento, nunca tinha sido tão amigos, e cúmplice de pensamentos, talvez o vento se tornasse o ladrão de suas idéias, pois com o rosto ali parado, a cabeça se tornava cada vez mais vazia, assim como um saco de ar. “On me dit que nos vies ne valent pas grand-chose”, mas uma frase da música, porém essa não tinha decorado, apenas havia anotado no caderno, mesmo sem saber ao certo o significado, talvez fosse a sonoridade que havia marcado. Algo estranho estava acontecendo, ao invés do carro aumentar sua velocidade o que é o mais comum de ocorrer quando se pisa o mais fundo no acelerado, ele estava parando. Oitenta, cinqüenta, trinta, dez, cada ver menos, parou. Não acreditava em mudanças divinas, porém foi ali onde desabou em lagrimas, chorou o que havia ficado engasgado há um ano, dois, a vida toda. Chorar com choro de alma, tão fundo que não há forma de controlar. Ali parado só o que fazia era chorar, a mão trêmula, pegou o telefone, ligou para a seguradora, com a voz não muito forte, falou o endereço. Ali sem força para se mover resolveu ficar até, até, não sabia, porém iria se aceitar sentir.

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