domingo, 8 de novembro de 2009

O Lençol

No tanque começou quase em um ritual religioso, a lavar a roupa de cama que há alguns meses não lavava. Era engraçado como, mesmo após dois meses, ela não se incomodava com o mau cheiro que a roupa de cama suja trazia para o quarto, e quando alguém chega falando que o quarto estava fedendo, sempre, dizia que o fedor vinha do ralo do banheiro e não do quarto. O fedor não fora o real motivo que a fizera ir lavar a roupa de cama, mas sim a certeza que apenas com esse ato ela iria conseguir colocar um fim definitivo na relação, Em quanto às espumas eram formadas, em quanto à água tirava aquela gosma preta, que era uma mistura de suor, com resquício do último sexo. Fazia um esforço, para como em um ritual religioso, fazer a transfiguração das sujeiras do lençol para o amor vadio que havia sido feito, varias e varias vezes em cima daquele lençol, sim, pois não podia ser outro, caso trocasse os lençóis, Eros não aparecia, tinha que ser sempre o mesmo lençol, azul bebê, um pouco desbotado nas pontas e com um pequeno remendo no canto esquerdo, aquele era o mais velho, por isso, o mais macio, e mesmo que comprasse um da mesma cor e da mesma marca, na hora de ir usar a cama tinha de trocar, pois como em um ritual, tudo tinha de ser igual, até o lençol. Na última vez que o lençol fora usado, não tinha sido a melhor, pois tinha a consciência que aquela era a última, e como todos os outros seres humanos, não conseguia parar de pensar no futuro e viver o presente, visto que, o presente só seria presente por mais alguns segundos até ser passado.
Tudo já estava ficando mais alvo, o lençol começou a ter a cor azul beber, já dava para ver as manchas e o pequeno remendo, que a pouco estava coberto pela sujeira. Ao terminar de lavar, levou para a varanda onde ele secaria com maior rapidez. Foi à gaveta pegar outro lençol, porém notou que não havia nenhum. E como em um fluxo de consciência lembrou-se que havia dado todos os outros lençóis, já que não os usava. E como não tinha outra opção voltou à varanda, pegou o velho lençol surrado, e mesmo ainda estando um pouco úmido, põem na cama, ao se deitar sentiu um cheiro pior que o do lençol sujo, pois o sujo lhe lembrava o final da relação, mas o limpo lhe remetia ao momento da esperar, porém dessa vez seria uma espera sem esperança de chegada.

4 comentários:

Beatriz disse...

adorei o amor vadio, de amante sem dúvida. A sujeira do lençol deve estar dentro dela também.

ANOITE disse...

Achei fantástico o teu blog.
Ninguem diria a idade que tens...
Um abraço

Isabela A. Santiago disse...

Eba!!! Tu voltastes a escrever.
Tabom, ta bom, faz muito tempo que eu tbm nao escrevo mas realmente nao tinha mas visto vc por essas bandas... :D
Muito interessante o texto.
Boa noite, Bela

Kvhote disse...

Ainda assim, prefiro o lençol limpo.