quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
Basilar
De que as partes são maiores que o todo.
Das partes, recanto a musica do todo,
cheirando o todo das partes.
Do todo, os olhos selecionam as
Partes que fazem continuar em um.
Tenho partes do todo, e todos da parte.
R E C O L H O.... recolho
JUNTO.
ciclo...
sexta-feira, 30 de setembro de 2011
Cães tanatos
sexta-feira, 5 de agosto de 2011
Pedaços de um presente
sexta-feira, 15 de julho de 2011
Para você
Uma visita noturna muito oportuna.
Que ao acordar, fechei os olhos para voltar.
Era um dia claro, estávamos mais uma vez em BH
No jardim, que só nós conhecemos,
seu sorriso aberto, foi o que primeiro vi.
Tua boca, pescoço e orelhas
eram os locais que meus lábios mais
estavam gostando de passear.
O sol continuava lindo, como da última vez em BH
Você nos meus braços, local tão seu
Eu nos seus braços local tão meu.
Sabe, amanhã te conto mais sobre o sonho de BH.
domingo, 10 de julho de 2011
Esperando
Personagens:
Mulher com cigarro verde: CV
Mulher com cigarro rosa: CR
CV: Você já pensou em pular de um prédio?
CR: Não, nunca pensei em pular de um prédio.
CV: Mentira! Todo mundo já pensou em pular de um prédio.
CR: Mas eu nunca pensei.
CV: Sabia que as pessoas normalmente não morrem por causa da queda!
CR: Coisa que não importa muito, pois, no final, elas acabam mortas da mesma forma.
CV: Contaram-me, certa vez, que uma mulher, que havia pulado do vigésimo andar de um prédio, estava com a face feliz, e com uma mancha de sangue que lembrava um halo. Acho que ela estava sorrindo, pois havia sentido o vento no rosto.
CR: Mas ela estava morta, não importando o sorriso.
CV: Eu já pensei em pular do meu prédio, mas ainda não fiz. Acho que todo mundo já pensou em pular do seu prédio. Você não?
CR: Já lhe disse que não. Além do mais, moro em uma casa.
CV: No caso de quem mora em casas, acho que normalmente pensam em se envenenar, ou quem sabe dar um tiro no meio da cabeça. Alguma dessas coisas você já pensou?
CR: Nenhuma delas. Veneno, dizem que dói muito o estômago, e eu já tenho gastrite, acho que não vai ser muito bom. E da um tiro na cabeça, não Deus me livre. Quero ter um velório de caixão aberto.
CV: Ok, se você fala que nunca pensou em se matar, então é por que você não é normal.
CR: Que horas são? Meu relógio parou.
CV: Desculpa, o meu também parou.
CR: Que chato, pois acho que tenho de ir.
CV: Sem problemas, só cuidado, está chovendo muito, e 90% dos acidentes de carro acontecem nesse período do ano.
CR: E a pneumonia também aumenta, além de bronquites.
CV: Mas acidentes de carro, são mais perigosos.
CR: Ok tudo bem, mas de qualquer forma eu vou ficar aqui mesmo.
CV: Então quem vai sou eu,pois já estou atrasada. Adeus.
CR: Adeus. Você tem outro cigarro? O meu acabou.
CV: Sim tenho, toma. Pode ficar com todos, estou parando de fumar. Não quero morrer de câncer.
CR: Dessa forma, nem eu. Joguemos fora o cigarro.
CV: E não esqueça de parar de comer coisas com conservante, ou beber refrigerantes.
CR: Tudo bem, já não faço isso normalmente.
CV: Desculpas, mas tenho de ir mesmo.
CR: Tá, em que andar estamos mesmos?
CV: No vigésimo. Estou indo então.
CR: Cuidado e adeus.
sábado, 9 de julho de 2011
Durante um sonho e outro
Ao passarem pela face, deixam o cheiro da vontade
Bobo, quem não percebe que elas são verdadeiras.
quinta-feira, 23 de junho de 2011
Quase Amante
1- Você já vai?(silencio). A porta fica a esquerda.
2- Você não vem abrir?
1- Foi você que decidiu ir. Não estou lhe mandando embora.
2- Mas não fui eu que me troce até aqui. Por Favor, abra a porta.
1- Sabe, tem uma lenda que diz que se abrimos a porta para a pessoa que está em nossa casa, é porque queremos que ela volte a nos visitar.
2- E você não quer?
1- Não da forma que você se propõe a vim.
2- Já cansei de suas bobagens e seus gritinhos histéricos (silencio). Onde fica mesmo a porta?
1- A porta fica a esquerda.
2- OK. Tenha uma boa noite.
1- Para você também.
2- (vira-se para traz) A porta estar trancada. Por favor, venha abrir a porta.
1- Não sei onde coloquei as chaves (procurando nas roupas). Deve ter caído pelo chão, quando você tirou minha roupa.
2-Procure! Por favor.
1- Me ajude a procurar, não sei se vou me lembrar. Estávamos fazendo sexo.
2- Você estava fazendo sexo comigo.
1- Foi você que tirou minha roupa. Pelo que sei, foi você que quis.
2-Queria, mas no meio do caminho me arrependi. Cansei de saber a ordem exata dos acontecimentos. Gozei só por costume.
1-Achei as chaves. Pronto pode abrir a porta.
2- Por Favor, venha abri a porta para mim.
1- Já contei para você a historia de que quando abrimos a porta para alguém é porque queremos que essa pessoa volte para nos visitar?
2- E você não quer que eu venha lhe visitar?
1- Não da forma que você pretende.
2- Tudo bem. Além do mais, você já me contou essa historia varias vezes. Foi assim que eu vim aqui pela segunda vez, você havia aberto a porta.
1- A chave esta na sua mão já pode abri a porta.
2- E você não vai abri-la para eu sair?
1- Não!
2- OK, não precisa desses seus gritos histéricos, já disse que não gosto.
1- Desculpas.
2- As chaves.
1- Já estão em suas mãos.
2- A sim. Desculpa.
1- Pode deixar, eu abro a porta.
2- Obrigado.
sexta-feira, 17 de junho de 2011
Volta ao preto
sábado, 28 de maio de 2011
Encontro casuais
domingo, 15 de maio de 2011
Um lugar que só nós conhecemos
quarta-feira, 6 de abril de 2011
Deux ou trois
Não adiantava fechar os olhos e fingir que o sono iria chegar nos próximos dois minutos, ou no máximo três, como costumeiramente ocorria. Desde que se entendia por gente, o sono era super pesado e rapidamente vinha, porém no tempo presente, o costumeiro seria descartado. Olhava para cima, para um lado, para o outro, virava de ponta cabeça, de cabeça à ponta. Travesseiro no meio das pernas, travesseiro na cabeça, dois travesseiros, travesseiros no chão. Lençol na cabeça, lençol nos olhos, calor, frio, chão. O incomodo interior, não se limitava a ficar só no interior, mas se propagava. Será que no amanhã, quando a noite já fosse parte do ontem, e o futuro já estivesse, ao vivo e a cores, iria se sentir melhor? Às vezes, pensava que havia feito o melhor, e durante dois ou três minutos fechava os olhos, tendo a certeza que iria conseguir cai no sono, porém bastava uma leve brisa de duvida, e pronto, o furacão estava instaurado, e seria necessário mais vinte ou trinta minutos, para novamente se enganar e, dessa forma, conseguir mais um tempo de certeza. Pegou o telefone, olhou o horário. Já passava dois minutos das três da manha. Não adiantava nem ligar, pois o horário já era muito avançado. E mesmo assim o que iria falar? Tudo havia ficado combina. Não havia mais espaços para duvidas, nem desfeitos. Quem sabe em outro tempo, em um tempo em que a delicadeza já tivesse se instaurado novamente. Mas no tempo presente, o melhor era recolher todo o sentimento.
Odiava leite quente, mas como as pessoas falavam que era bom para insônia, resolveu fazer uma xícara, pois sabia que o único problema que poderia resolver naquela noite era a insônia. Foi até a cozinha, pegou o leite na geladeira e colocou para ferver. Como uma forma de esvaziamento do pensar, ficou olhando atentamente o leite. O branco. Depois de uns dois ou três minutos, o leite começou a borbulhar. Pegou a xícara e colocou o leite ainda fervendo dentro. Voltando ao quarto sentou-se na cama. O leite já estava morno, talvez fosse nessa temperatura que ele ajudasse o sono a chegar mais rápido. Bebeu, quase queimando a língua, mas bebeu. Deitou-se. Olhava para cima, para um lado, para o outro, virava de ponta cabeça, de cabeça a ponta. Travesseiro no meio das pernas, travesseiro na cabeça, dois travesseiros, travesseiros no chão. Lençol na cabeça, lençol nos olhos, muito calor, pouco frio, chão. Dois ou três minutos depois, levanta-se. Sabia que banho morno ajudava a dormir. Foi ao banheiro, despiu-se lentamente, sentou no aparelho por uns dois ou três minutos, entrou no boxe e tomou um longo banho de dose ou treze minutos. Preferiu não secar o corpo, vestiu-se ainda molhado e voltou ao quarto. O mal estar podia não ter passado mais o calor sim. Novamente deitou-se. Olhava para baixo, para cima, para o outro, para um lado, virava de cabeça a ponta, virava de ponta cabeça. Travesseiro na cabeça, travesseiro no meio das pernas, dois travesseiros, travesseiros no chão. Lençol na cabeça, lençol nos olhos, pouco calor, muito frio, chão. Lembrou-se que uma vez, depois de ter viajado durante varias horas de carro, havia tomado Dramin, um remédio que normalmente resolvei o problema de enjou, porém nele dava um sono enorme. Foi até cozinha pegou a caixa de remédio e tomou uns quatro ou seis Dramins. Voltou ao quarto e ficou deitado, como se estivesse a beira d’água esperando o riacho parar de correr. Dois três. Parou.
sexta-feira, 18 de março de 2011
Gravidade
Sabe, a realidade é assim, nua e crua, posso dizer que mais crua do que nua, pois ela vem em um prato de prata, com o sangue ainda escorrendo pelas bordas da bandeja, além de o másculo continuar pulsando vermelho e cheirando a frigorífico. Porque não dizer que ela também pode estar mais nua do que crua? Tão nua e amostra, que fechamos os olhos, rezando, para quando os abrir ela tenha ido embora ou, ao menos, se metamorfizado em algo mais bonito para se ver. Há sentimentos que nascem mesmo sem terem nomes, ou seus nomes são uma mistura de vários outros, formando neologismos que por não terem um sentido coletivo, acabem só tendo sentido para nos mesmos e, dessa forma, nos fazendo voltar ou ponto zero, tendo em vista, a impossibilidade de haver comunicação. Quem sabe, se falássemos alemão teríamos a oportunidade de conseguir dizer o que sentimos, ou talvez deva ser apenas só mais uma baboseira da filosofia. Quando se sabe que a dor de morrer nem sempre é a mesma de deixar viver, e se têm a consciência de que a realidade se apresenta nua e crua, e em proporções desproporcionais, tornando o ato de respirar já não tão comum, fazendo o sentir já não só ter sensações e o andar não só ser ir para frente, e assim, tudo vai ficando em rede, misturado em pensamentos e compreensões, que nem sempre lhe deixa em um eixo de equilíbrio confortável. E sem a menor duvida, nasce, cresce e morrer, se compreendendo em ciclos que podem refazer-se em si mesmos, sabendo que a cinza é o adubo do começo, e o começo nem sempre estar no sentido do ciclo passado.
Talvez seja durante a infância que temos os melhores momentos, pois tudo nos é bastante claro, e a certeza do pouco já e suficiente para ir ao colégio, comer, dormir, brincar, fazendo e refazendo esse ciclo todos os dias, repetidas vezes, por anos, sem precisar nem saber onde tudo vai dar. É durando o processo de amadurecimento, que raramente acontecesse de forma lenta e gradual, como normalmente é narrado por professores, é que descobrimos a realidade crua e nua. São em momentos específicos, e não graduais, que somos visitados, sem aviso prévio, pela vida. Ela vem e nos dar duas bofetadas na cara e nos faz crescer aos pontapés. E assim seguimos com medo e a passos maiores que as pernas, porém seguimos, fazendo ciclos e mais ciclos, alguns viciosos, outros libertários. E assim, em saltos, descobrindo como a vida é nua e crua. Mas é assim que ela é.
quarta-feira, 9 de março de 2011
Memórias afiadas
Daqui de cima, eles parecem menores, organizados e silenciosos. Nem se quer sinto me perturbado ou incomodado. De onde os observo agora, junto com esse olhar distanciado, ganho um titulo de admirador, e assim, talvez pela terceira vez, possa vivenciar essa orquestra. Contanto com hoje, já devo ter vindo aqui umas três vezes. Na primeira, vim por um impulso, coisas de criança, que com medo da bronca ou da peia dos pais, resolve se fazer de vitima, e assim conquistar o perdão rogado. Nesse dia, tinha a certeza que não iria fazer nada, mas o impulso sadomasoquista infantil conduziu-me, e depois de dois ou três berros e dois ou três choros histéricos, voltei, prometendo não fazer isso nunca mais, pois quase havia deixado minha mãe louca, coisa que não era muito difícil de fazer. A segunda vez tinha sua pitada de infância, pois no começo da adolescência, não saber resistir ao sofrimento de um amor não correspondido, é um pouco infantil mesmo que comum e subversivo. Havíamos nos beijado no da anterior, porém me justificou, no outro dia, que tudo tinha sido culpa da bebida. Como não queria sair por menos, disse que só não lhe meti a mão na cara, por consideração a nossa amizade, mas que se acontecesse uma próxima vez, podia ter a certeza que não iria deixar passar. Rimos. Toda via, os dias foram passando e fomos se distanciando e quando não pude mais resistir, fui a sua procura. Rapidamente me rejeitou e disse que nunca mais olharia na minha cara, pois toda aquela história tinha sido culpa minha. De lá, sem pensar nem duas vezes, vim aqui pela segunda vez, olhe firmemente, mas nenhuma brisa dionisíaca me ajudou, mesmo eu tendo a bênção de Eros. Acho que não sou filantrópico o suficiente para fazer de uma experiência minha um crescimento espiritual para os outros. Cada um que cresça a partir de se mesmo, e se aproveitando das sobras dos outros. Essas devem ter sido as vezes que precederam a de hoje, caso haja outras, não me lembro, mas também não duvido que tenha existido, pois constantemente esqueço-me de coisas que fiz, e só depois de duas ou três colheres de sopa de açúcar é que lembro ou invento e reinvento, podendo dessa forma descobrir ou descobrir o que o consciente prefere não me mostrar. O que importa é que aqui estou, esperando mais uma vez, que a brisa dionisíaca ou talvez o mandato do oráculo vertiginoso, possa fazer-me declinar do pedestal de admirador. Daqui de cima tudo parecem organizado, silencioso e acima de tudo menor.
terça-feira, 8 de março de 2011
welcome to the casonse.

welcome to the casonse.
Muros de pedra que protegem intimidades, relógios, livros e espelhos.
Espelho objeto responsável por mostrar, seja aguilo que queremos perder ou que não podemos suportar. Com suas molduras diversas espelham, mostram ou desmostram o além do provável olhar. Livros que desalinham pensamentos, alinham sentimentos, eixos e desleixos em planos paralelos inconcretos. E TUDO É inscrito no tempo, responsável por nos podar e nos fazer viver, comer, ler, amar e morrer.
E tudo é inscrito?
http://www.facebook.com/album.php?aid=29315&id=100001727031122
(veja o ensaio completo)
sábado, 5 de março de 2011
Outro dia
Odiava ir à praia, mas como morava em uma cidade praiana, era quase impossível não ir, ao menos uma vez por ano, nem que fosse por obrigação. Todo aquele calor, a areia que era quente e a água que era fria, parecia produzido atenciosamente para lhe perturbar. Dessa fez, o mundo se processou de uma forma diferente, pois ninguém havia lhe convidado para ir à praia, mas por conta própria pegou o carro e foi. Não tinham ninguém lhe esperando, mesmo assim aceitou o impulso. De início, tudo parecia o mesmo, o sol lá em cima, a areia, mesmo ainda sendo quinze para as oito, já estava muito quente e o mar parecia estar de ressaca. Sentou-se na barraca, pediu uma cerveja e ali sentado ficou. Odiava o ritual, que normalmente a maioria das pessoas faziam ao ir à praia, não entendia qual era a graça de ficar virando de um lado para o outro, se lambuzando com um bronzeado, como se fosse uma galinha de maquina da padaria. Sentado ao longe viu, próximo ou mar, um castelo de areia, que devia ter sido feito há alguns dias, pois as estruturas da parede já estavam cedendo. Levantou-se e foi olhar mais de perto. Era engraçado, como as crianças sempre ao chegar a praia, vão logo sentando se na areia, e começando a fazer seus castelinhos, seja com o auxilio de um balde, ou simplesmente com as mãos. Olham de perto aquele castelo, lembrou-se da época que era criança, e mesmo sem gostar de ir à praia, algo que continuava na vida adulta, era obrigado a ir. Quando isso acontecia, a única coisa que o animava era o fato de poder construir seu castelo. Construir o castelo era uma tarefa, que necessitava de cuidado e atenção, pois todos os castelos fazem de conta que são fortes, mas na verdade, necessitam de cuidado. Quanto mais tempo passasse com o castelo, mais afeição vai se criando. Construir era tão divertido, que era capaz de deixar de comer, e só lembrando quando sua mãe insistentemente o chamava,chegando ameaçar a bater. Mesmo distante, em quanto almoçava, ficava observando com um olhar até doentio, pois se alguém ousasse tocar, era capaz de para o comer, e ir dizer que o castelo era seu e que fosse atrás de outro. Porém a pior parte só acontecia ao entardecer, pois era à hora de abandonar, mesmo com um olhar banhado, o seu castelinho de areia, talvez essa separação nem fosse tão dolorosa para o castelo como era para ele, pensava, porém era naquele momento que tinha a vontade de nem ter começado a relação, toda via, como não se podia remediar, tentava de varias formas se assegurar de que o castelo ficaria protegido até seu retorno, por isso, fazia muralhas e mais muralhas de arei, colocando pedrinhas e búzios para ajudar na proteção. Dessa forma ia se despedindo do castelo. Triste, ia andando e olhando para traz, pensando se o castelo também iria sentir sua falta, e em um pacto silencioso prometia voltar o mais rápido possível para visitá-lo, e mesmo sem gostar da praia, iria insistir diariamente para ser levado à praia. Depois de um leve mergulho nas lembranças, tornou ao tempo atual, quando uma criança, ao longe, enquanto corria, ia falando aos berros “Ei moço, esse castelinho de arreia é meu, foi eu que fiz ele ontem".
domingo, 27 de fevereiro de 2011
Palavras não vêm facilmente
Não conseguia mais fingir a mascara de fortaleza inabalável, que normalmente ostentava na frente de todos, para poder ter seu ar de arrogância e superioridade costumeiro. Seu corpo já não funcionava como em outrora, pois estava quase impossível dizer onde cada órgão se localizava e tinha uma certeza, quase que fiel, que todos eles haviam se fundido, tendo em vista sua perda de consistência do mal estar. Nunca tinha lido o Mágico de OZ, porém certa vez haviam lhe contado a historia do homem de lata. Como aquele ser podia ter sido tão estúpido, ao ponto de pedir para o mago um coração. Tudo bem que o mago não lhe deu um, pois ele já o tinha, porém a tomada de consciência seria o problema futuro, e com certeza, em um prazo de seis meses ele iria se arrepender, mas já seria tarde de mais, e a situação já estaria irremediável. Coração, órgão humano historicamente responsabilizado pelas tormentas emocionais, mas que em sua opinião era apenas uma espécie de sindicalista, um fogueteiro grevista, que fazia com que todos os outros órgãos se revoltassem e se fundissem para produzir o mal estar. Mas no ponto em que se encontrava, não adiantava encontrar culpados. As horas passavam e o sentimento de incomodo só aumentava, tinham combinado de se encontrar as vinte horas, e já contabilizava um atraso de quinze minutos. Quinze minutos de ensaio, para quem tinha passado dois dias, não representava nem a preparação para o epílogo. No ensaio, assim como em uma seção de psicodrama, tinha conseguido falar tudo sem pestanejar nem mudar as palavras para sinónimos eufêmicos. O atraso já se contabilizava em vinte minutos, tempo inadmissível, mesmo que estivessem em período chuvoso. Será que havia se arrependido? Iria esperar fechar a meia hora de atraso, para poder ir embora. Ao longe, mesmo sem óculos, pode notar, não pela silhueta, mas pela maneira como andava, que a pessoa tão esperada enfim chegara. À distância em que se encontravam ainda lhe proporcionaria mais alguns minutos de decisão combustiva. Na hora da escolha tudo se tornava mais confuso e perturbador, e todas as certezas se diluíam em pensamentos ondulados que colocavam em prova a lógica tão certa. A Lei da relatividade estava contra seus pensamentos, e em algumas passos, os dois olhares iriam se cruzar. Nunca tinha sido seu forte se arrepender de escolhas feitas com muita reflexão, mas se a certeza ainda não era forte o suficiente, para se consolidar na presença do outro, admitir e aceitar a queda de sua arrogância era o melhor a ser feito. Antes que os passos que permitissem a decisão fossem recolhidos a zero, virou-se bruscamente e foi o mais rápido possível, sem olhar para traz, em direção a multidão, pois, assim, iria se diluir e ser apenas mais um. Tudo foi tão rápido que só quando realizou todas as ações, foi que o cérebro, agora um pouco mais calmo e duas vezes mais confuso, concebeu o que acabara de ordenar para o resto do corpo. O mal estar tinha se acalmado, por pouco tempo, e sabia que quando toda aquela adrenalina fosse metabolizada pelo corpo, ele iria voltar. Tinhas as desculpas necessárias, e as mentiras programadas para se defender de sua ausência do encontro, e isso lhe proporcionava um conforto mínimo, para mais um dia de pensamento.